MINHAS TAMBÉM
PERGUNTAS
Cristina Benevides, leitora
Começando
esta coluna lembrei de lhe dar o título acima, porque me vejo cheia de
indagações a que ninguém ainda respondeu a meu contento. Faço aqui uma lista
delas, na esperança de que alguém mais inteligente, mais esperto ou mais
informado do que eu me ajude:
“FAÇO UMA
LISTA DE INDAGAÇÕES, NA ESPERANÇA DE QUE ALGUÉM MAIS INTELIGENTE, MAIS ESPERTO
OU MAIS INFORMADO DO QUE EU ME AJUDE”
1) Por que, se não estamos nem
em Israel nem em Gaza, morrem tantos inocentes por aqui, diariamente – homens,
mulheres, velhos, crianças – encurralados nas ruas e em casa por criminosos que
acabam em sua maioria impunes? Por que andamos feitos ratos assustados mesmo em
nossas cidades menores? Moradores de países conflitados dizem que suas crianças
nem conhecem a paz. Muitas das nossas só conhecem a violência.
2) Por que o assunto Pasadena nem se encerra nem
se abre direito? Revelações cada vez mais escabrosas vão juntando infratores de
todo o tipo, cor, classe, partido e escalão, tão bem disfarçados e protegidos
que até os mais infratores pareciam inocentes, e os mais inocentes podem ser
acusados de infratores – o que está acontecendo com o Brasil?
3) Como é possível que agora
se descubra que nos depoimentos nessa CPI da Petrobrás pessoas ditas sérias e
competentes receberam as perguntas antecipadamente, portando-se como moleques
que fazem cola no vestibular – roubando-nos as últimas pequenas esperanças de
confiabilidade -, e nada sério aconteça?
4) Por que os processos que
deveriam expor nossas feridas, encontrar, mostrar e punir culpados dos mais
variados crimes se arrastam anos, décadas a fio, e ninguém se anima a fazer uma
reforma no nosso Judiciário, que impede a polícia de prender criminosos, ou os
solta no segundo dia, e toda sorte de burocráticas complicações com ar e cheiro
de atraso secular – e tantas vezes réus condenados ou confessos, em lugar de
punição, recebem cargos ainda mais altos?
5) Por que, sendo o Brasil um
país civilizado, temos quase quarenta ministérios e outro tanto de partidos
políticos? Mais significa menos, gente: dá para arrumar isso ou não, não e
nunca?
6) Por que nossa política
virou um mercado persa de ofertas e negociatas, e a maioria se empenha, nessas campanhas
iniciantes, em denegrir o outro, insultar, caluniar, difamar, inventar mais do
que romancista criando suas ficções...e ninguém diz nada, ninguém faz nada,
tudo é permitido nessa grotesca arena?
7) Por que, quanto mais
honesto o político, mais dificuldades ele tem, e por que quase ninguém mais
acredita em política e políticos?
8) Por que não é a educação o primeiro e principal clamor
de todos os candidatos? E por que, se algum deles afirmar isso, a gente de
saída não acredita porque já perdeu a esperança? Aliás, como é possível que num
país civilizado a educação não seja o projeto primeiro, e tenhamos tanta
criança sem escola, tanta escola sem professor, tanto professor sem incentivo,
tanta ilusão sobre notebooks em todas as escolas quando em muitas não há nem merenda
escolar nem giz ou livro? Como chegamos a esse ponto?
9) Por que aceitamos tudo com
esse jeito de “Deus quer assim”? Por que grandes quantias de dinheiro dirigidas
a consertar a devastação trazida por tragédias de anos atrás, como os
deslizamentos de Nova Friburgo, e tantas mais, nunca foram empregadas e lá
ainda encontramos carros afundados no barro até a metade, dezenas de casas
destruídas, e igual número de famílias vivendo em barracas, em casa de parente,
em abrigos públicos – e ninguém seriamente reclama?
10) Por que andamos em transporte público
vergonhoso, apertados como carga ou animais, atrasados, suados, exaustos já
antes de iniciar um dia de trabalho – e ninguém faz nada?
11) Por que nossa economia
manca, anda de ré, engatinha, e ainda tem gente em altos postos dizendo que
está tudo bem – como se fôssemos um povo de débeis mentais (ou somos
alienados)?
12) Por que num país onde há
dezenas e dezenas de lixões por onde rastejam seres humanos – não animais -,
sobretudo crianças, se anunciam com orgulho, depois da Copa, obras bilionárias
para a Olimpíada de 2016, e aplaudimos?
13) E por que, diante disso e
muito mais, o país não para estarrecido?
Revista Veja, de 13/8/2014 de nº 33, ano 47 - edição 2386
Nenhum comentário:
Postar um comentário