quarta-feira, 10 de abril de 2013

UNIÃO HOMOSSEXUAL - UMA “CONVERSA NA CATEDRAL” ENTRE JORGE BERGOGLIO-PAPA FRANCISCO, ENTÃO ARCEBISPO E O RABINO ABRAHAM SKORKA


REVISTA VEJA, ED 2316, PÁGINAS 94 A 97, MAIO DE 2013.

- UNIÃO HOMOSSEXUAL- RABINO ABRAHAM SKORKA: O modo como se tratou o tema do casamento homossexual foi, em meu entender, deficiente no que diz respeito à profundidade da análise que o assunto merece. Embora de fato já existam muitos casais do mesmo sexo que coabitam e merecem uma solução legal em questões como herança, pensão, etc. – que bem podem se enquadrar em uma figura jurídica nova -, equiparar o casal homossexual ao heterossexual já é outra coisa. Não é só uma questão de crenças, e sim de ter consciência de que estamos tocando em um dos elementos mais sensíveis da constituição de nossa cultura. Faltaram análise e estudos antropológicos sobre a questão. Paralelamente a isso, é claro que se deveria ter dado maior espaço de informação aos credos, como portadores e formadores de cultura. Deveriam ter sido organizados no seios dos próprios credos, com suas variadas tendências, para formar um espectro completo de opiniões.

- UNIÃO HOMOSSEXUAL- BERGOGLIO: A religião tem o direito de opinar, pois está a serviço das pessoas. Se alguém pede um conselho, tenho direito de dá-lo. O ministro religioso às vezes chama a atenção sobre certos pontos da vida privada ou pública porque é o condutor dos fiéis. Mas não tem direito de forçar nada na vida privada de ninguém. Se Deus, na criação, correu o risco de nos fazer livres, quem sou eu para me meter? Nós condenamos o assédio espiritual, que acontece quando um ministro impõe as normas, as condutas, as exigências, que priva a liberdade do outro. Deus deixou em nossas mãos até a liberdade de pecar. Temos de falar muito claro dos valores, dos limites, dos mandamentos, mas o assédio espiritual pastoral, NÃO É PERMITIDO.

- UNIÃO HOMOSSEXUAL- RABINO ABRAHAM SKORKA: (...) A lei judaica proíbe relações entre homens. Estritamente, o que diz a Bíblia é que os homens não devem ter relações no estilo das que homens têm com mulheres. Disso se deduz toda uma postura. O ideal do ser humano, desde o Gênesis, é unir um HOMEM E UMA MULHER. A lei judaica é clara: não pode haver homossexualidade. Por outro lado, eu respeito qualquer indivíduo, desde que se mantenha uma atitude de recato de intimidade. Em relação à nova lei,, não me convence do ponto de vista antropológico. Ao reler Freud e Lévi-Srauss quando se referem aos os elementos formadores daquilo que conhecemos como cultura, e o valor que dão a proibição das relações incestuosas e à ética sexual, como base de civilização, preocupam-se os resultados que essas mudanças podem produzir no seio de nossa sociedade.

- UNIÃO HOMOSSEXUAL- BERGOGLIO: Penso exatamente a mesma coisa. Para defini-lo, eu utilizaria a expressão “RETROCESSO ANTROPÓLGICO”, porque seria debilitar uma instituição milenar criada de acordo com a natureza e a antropologia. Há cinquenta anos, o concubinato não era uma coisa socialmente tão comum como agora. Era até uma palavra pejorativa. Depois, a situação foi mudando. Hoje, coabitar antes de casar, embora não seja o correto do ponto de vista religioso, não tem o peso social pejorativo de cinquenta anos atrás. É um fato sociológico, que certamente não tem a plenitude e a grandeza do casamento, que é um fato milenar que merece ser defendido. Por isso, alertamos sobre sua possível desvalorização, e, antes de modificar uma jurisprudência, é preciso refletir muito sobre tudo o que está em jogo. Para nós também é importante o que o senhor acaba de apontar, a base do direito natural que aparece na Bíblia, que fala da união homem e mulher.
Sempre houve homossexuais. A ilha de Lesbos era conhecida porque ali viviam mulheres homossexuais. Mas nunca ocorreu  na história que se tentasse dar a essa relação o mesmo status de casamento. Era tolerada ou não, admirada ou não, mas nunca equiparada

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