REVISTA VEJA, ED 2316, PÁGINAS 94 A 97, MAIO DE 2013.
- UNIÃO HOMOSSEXUAL- RABINO ABRAHAM SKORKA: O modo como se tratou o tema do casamento
homossexual foi, em meu entender, deficiente no que diz respeito à profundidade
da análise que o assunto merece. Embora de fato já existam muitos casais do
mesmo sexo que coabitam e merecem uma solução legal em questões como herança,
pensão, etc. – que bem podem se enquadrar em uma figura jurídica nova -,
equiparar o casal homossexual ao heterossexual já é outra coisa. Não é só uma
questão de crenças, e sim de ter consciência de que estamos tocando em um dos
elementos mais sensíveis da constituição de nossa cultura. Faltaram análise e
estudos antropológicos sobre a questão. Paralelamente a isso, é claro que se
deveria ter dado maior espaço de informação aos credos, como portadores e
formadores de cultura. Deveriam ter sido organizados no seios dos próprios
credos, com suas variadas tendências, para formar um espectro completo de
opiniões.
- UNIÃO HOMOSSEXUAL- BERGOGLIO: A religião tem o direito de opinar, pois está
a serviço das pessoas. Se alguém pede um conselho, tenho direito de dá-lo. O ministro
religioso às vezes chama a atenção sobre certos pontos da vida privada ou
pública porque é o condutor dos fiéis. Mas não tem direito de forçar nada na
vida privada de ninguém. Se Deus, na criação, correu o risco de nos fazer
livres, quem sou eu para me meter? Nós condenamos o assédio espiritual, que acontece
quando um ministro impõe as normas, as condutas, as exigências, que priva a
liberdade do outro. Deus deixou em nossas mãos até a liberdade de pecar. Temos
de falar muito claro dos valores, dos limites, dos mandamentos, mas o assédio
espiritual pastoral, NÃO É PERMITIDO.
- UNIÃO HOMOSSEXUAL- RABINO ABRAHAM SKORKA: (...) A lei judaica proíbe relações entre
homens. Estritamente, o que diz a Bíblia é que os homens não devem ter relações
no estilo das que homens têm com mulheres. Disso se deduz toda uma postura. O
ideal do ser humano, desde o Gênesis, é unir um HOMEM E UMA MULHER. A lei
judaica é clara: não pode haver homossexualidade. Por outro lado, eu respeito
qualquer indivíduo, desde que se mantenha uma atitude de recato de intimidade.
Em relação à nova lei,, não me convence do ponto de vista antropológico. Ao
reler Freud e Lévi-Srauss quando se referem aos os elementos formadores daquilo
que conhecemos como cultura, e o valor que dão a proibição das relações incestuosas
e à ética sexual, como base de civilização, preocupam-se os resultados que
essas mudanças podem produzir no seio de nossa sociedade.
- UNIÃO HOMOSSEXUAL- BERGOGLIO: Penso exatamente a mesma coisa. Para
defini-lo, eu utilizaria a expressão “RETROCESSO ANTROPÓLGICO”, porque seria
debilitar uma instituição milenar criada de acordo com a natureza e a
antropologia. Há cinquenta anos, o concubinato não era uma coisa socialmente
tão comum como agora. Era até uma palavra pejorativa. Depois, a situação foi
mudando. Hoje, coabitar antes de casar, embora não seja o correto do ponto de
vista religioso, não tem o peso social pejorativo de cinquenta anos atrás. É um
fato sociológico, que certamente não tem a plenitude e a grandeza do casamento,
que é um fato milenar que merece ser defendido. Por isso, alertamos sobre sua
possível desvalorização, e, antes de modificar uma jurisprudência, é preciso
refletir muito sobre tudo o que está em jogo. Para nós também é importante o
que o senhor acaba de apontar, a base do direito natural que aparece na Bíblia, que fala da união homem e
mulher.
Sempre houve homossexuais. A ilha de Lesbos era conhecida porque ali
viviam mulheres homossexuais. Mas nunca ocorreu
na história que se tentasse dar a essa relação o mesmo status de
casamento. Era tolerada ou não, admirada ou não, mas nunca equiparada
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