Em Cuba, o líder
estudantil se torna guerrilheiro de fato. Em 1970, é submetido a duro
treinamento militar na selva, ao lado de 32 brasileiros. Ferido durante num
deles, Dirceu, agora com o codinome Daniel, é apadrinhado por Alfredo Guevara.
O brasileiro morou na casa de Guevara, que era homossexual e os maledicentes
chegaram a dizer que formavam um casal — boato desmentido por Otávio Cabral,
pois Dirceu gostava e gosta mesmo é de mulheres.
Guevara aproximou
Dirceu de Fidel Castro e de seu irmão Raúl Castro, o chefão das Forças Armadas
cubanas. Ao se especializar em questões militares, o brasileiro se tornou
“homem de confiança dos” hermanos Castro, que o escolheram para “implantar um
novo foco guerrilheiro” no Brasil. O historiador Luís Mir (autor de “A
RevoluçãoImpossível”), citado por Otávio Cabral, sustenta que “suas opiniões
eram vistas com desdém e as propostas que fazia, todas, eram invariavelmente
derrotadas”. Mas, enquanto a vida dos demais esquerdistas brasileiros era
difícil, Dirceu “tinha carro, bebia os melhores runs, fumava charutos
Montecristo e vestia belas fardas”, anota Paulo de Tarso Venceslau. “A voz
corrente na esquerda é de que era agente do G2, o serviço secreto cubano”,
acrescenta Paulo de Tarso. O jornalista Fernando Gabeira corrobora: “Ele
repassava ao governo [cubano] informações sobre o comportamento dos
brasileiros”.
Para se proteger,
Dirceu procurou entrar na ALN. Fidel e Raúl colocaram-no para “liderar” o
chamado Grupo dos 28, Grupo Primavera e, depois, rebatizado de Movimento de
Libertação Popular (Molipo). “Os outros 27 desconfiavam de que fosse agente de
Fidel infiltrado. (…) Em um exercício noturno de sobrevivência no mar, tentaram
afogá-lo.”
Por que o Molipo foi
tão prontamente devastado? Fala-se em delação, mas o que poderiam fazer 32
pessoas contra uma ditadura estabilizada, com forte apoio popular — dados o
farto consumo e, mesmo, o medo do comunismo — e com amplos recursos financeiros
e armamentos? Não há prova alguma de que Dirceu tenha delatado os colegas.
Dirceu volta para
Cuba, mas o governo cubano o reenvia para o Brasil, em 1975. Esteve até em
Rondônia. Percebendo que a guerrilha havia sido destruída, Dirceu esconde-se no
Paraná, vivendo lá até a Anistia, no final da década de 1970. Mentiu para Clara
Becker, sua mulher, para sobreviver. Ele vivia com nome falso.
Dirceu
menosprezou o líder sindical Lula da Silva
No fim da década de
1970, José Dirceu volta à ativa, mas, apesar de instado por amigos e aliados
políticos, como Frei Betto, não se mostra interessado em conhecer Luiz Inácio
Lula da Silva. Porque não tinha apreço pelo movimento sindical. Em 1980, o
dominicano apresentou os dois. “Em menos de meia hora de conversa, já aceitara
o convite de Lula para participar da fundação do Partido dos Trabalhadores”,
conta Otávio Cabral. Apesar do ciúme, um sempre achou que o outro queria o
papel de ator principal, Dirceu e Lula aprenderam a conviver. “Lula, desde a
primeira campanha, percebeu que precisava da capacidade de organização
partidária de Dirceu, que viu na proximidade com o líder carismático, dono de
uma oratória invejável, a grande possibilidade de crescer na política e na
vida.” Lula foi derrotado na disputa pelo governo de São Paulo, em 1982.
Em 1994, seguindo o PT
e Lula, Dirceu desdenha o Plano Real. Chegou-se a cogitar uma chapa Lula
(presidente) e Jereissati (vice), mas a cúpula tucana rejeitou-a. Candidato a
governador de São Paulo, Dirceu ficou nervoso ao saber que Lula havia prometido
apoiar Mário Covas se o PSDB indicasse o seu vice. O Real derrotou Lula para
Fernando Henrique Cardoso. Dirceu e seu protegido Silvio Pereira “foram
acusados de desviar recursos da campanha”. Ele procurou Lula e disse que não aceitaria
qualquer punição do partido e disse que as mesmas empreiteiras que o bancaram
financiaram a campanha nacional. Lula recuou e Dirceu foi protegido e se tornou
presidente do PT. Mesmo assim, adiante, teria dito, aos berros: “Lula é o maior
atraso da esquerda brasileira. Ele não tem formação política de esquerda. Ele é
oportunista, só se cerca de pessoas que pode controlar. O Lula tem resistência
à esquerda tradicional, à esquerda que militou na luta armada”.
Em 1997, depois de
duas derrotas, Lula diz ao deputado Chico Alencar: “Cansei de rodar minha
bolsinha esfarrapada por aí. Para ganhar eleição, vou precisar de aliança e de
grana. Dei todo o poder para o Zé Dirceu arrumar isso. Falei: ‘Zé, articula e
faz. Pode até contratar o Duda Mendonça. Não quero saber como você fez, só
quero que a gente ganhe a Presidência’”. Em 1998, com Fernando Henrique Cardoso
desgastado, Leonel Brizola sugeriu a derrubada de FHC, mas Dirceu encerrou a
conversa: “Se é para botar o Marco Maciel, deixa o FHC mesmo”.
Com carta branca,
Dirceu foi responsável por três metamorfoses. Primeiro, domou o PT, tornando-o
mais moderado. Segundo, com o auxílio de Duda Mendonça, contribuiu para que
Lula se vestisse melhor, aparasse a barba e melhorasse sua linguagem. Terceiro,
bancou na vice o empresário José Alencar, o que indicou ao empresariado que o
PT não era mais o mesmo. Mas Lula, que não queria Dirceu sozinho, pôs o médico
Antonio Palocci no jogo.
Ao se tornar
pragmático, o PT começou a negociar apoio com dinheiro. O PL de Valdemar Costa
Neto exigiu de 15 milhões a 20 milhões para apoiar Lula. José Sarney, o rei do
Maranhão, e Antonio Carlos Magalhães, monarca da Bahia, também apoiaram o
petista. Lula foi eleito presidente. A bolsinha não era mais esfarrapada. O
ex-líder sindical pôs Dirceu para fazer o pacto com o “demônio” — as elites
políticas e financeiras — e ele próprio negociou com os “anjos”,
contaminando-se quase nada.
Na montagem da base de
apoio ao governo de Lula da Silva, mesmo antes da posse, José Dirceu conversou
com o presidente do PMDB, Michel Temer, que exigiu os ministérios da Integração
Nacional e de Minas e Energia — com “porteira fechada”. “Lula, precisamos
resolver o problema do PMDB. Sem eles, nossa vida no Congresso vai ser
complicada. A gente tem que fazer como o Fernando Henrique e dar os dois
ministérios de porteira fechada para eles”, disse Dirceu. Lula replicou: “Não
sei, não, Zé. Tenho medo desse PMDB nos dar dor de cabeça. Não tem outro jeito
de fazer a maioria no Congresso?”. Depois, o presidente eleito acrescentou:
“Você [Dirceu] precisa desfazer esse acerto com o PMDB. Eu não vou entregar
nenhum ministério para eles”. Ciro Gomes e Dilma Rousseff ganharam os dois
ministérios que deveriam ter sido ocupados por peemedebistas. “Isso vai dar merda”,
disse Dirceu. Tinha razão.
Dirceu, que queria ser
ministro da Fazenda, aceitou a Casa Civil e ampliou seu poder, praticamente
montando um governo paralelo ao do presidente Lula. Eles começaram a se
estranhar, mas precisavam um do outro. Haviam feito um pacto faustiano. Quando
irritado, o petista-chefe dizia: “Foda-se o Zé Dirceu. Ele precisa entender que
quem ganhou a eleição fui eu”.
De fato, Lula ganhou,
mas a missão inglória de montar uma base parlamentar no Congresso passou a ser
de José Dirceu. Não só. Com o apoio de Delúbio Soares, começou a reunir
dinheiro para pagar as dívidas de campanha do PT e dos partidos aliados. Ao ser
informado das ações, Lula dizia: “Resolva como você achar melhor, só não me
crie problemas”.
No poder, com o PMDB
inicialmente sem cargos, Lula tendo autorizado, Dirceu decidiu montar uma base
parlamentar no Congresso com base em dinheiro obtivo por Delúbio Soares e
Marcos Valério em bancos “amigos”, como BMG e Rural. O esquema pagava luvas de
300 mil, 500 mil e até 1 milhão e mais 30 mil reais por mês. PTB, PL e PP
entraram na dança. Três deputados tucanos optaram por deixar o PSDB e
filiaram-se ao PTB, para participar do mecenato político. Mais tarde,
descoberto, o mensalão derrubou Dirceu e provocou sua cassação e condenação à
prisão pelo Supremo Tribunal Federal.
A rigor, Lula é o pai
do mensalão, mas a herança maldita ficou mesmo para Dirceu, o pragmático que,
ao final, foi “embrulhado” por aquele que, intelectualmente, desprezava. Lula,
com o mensalão, ficou livre de Dirceu. Ele planejava que Antonio Palocci fosse
seu sucessor em 2010, mas este envolveu-se num escândalo e Lula bancou Dilma
Rousseff, que foi eleita.
A
EMPREITEIRA DELTA DOBROU FATURAMENTO COM APOIO DE DIRCEU
Depois de “provar”
que José Dirceu foi essencial para o PT conquistar o poder e que, mesmo errando
com o mensalão, foi responsável pela montagem da base de apoio à
governabilidade da gestão do presidente Lula da Silva, o biógrafo Otávio Cabral
relata, no capítulo “O maior lobista do Brasil” — sem compará-lo a outros
lobistas, para comprovar sua assertiva —, que o ex-guerrilheiro, cassado e
afastado da linha de frente do governo federal, supostamente decidiu ficar
rico.
Dirceu
criou a JD Assessoria e Consultoria e começou a representar os interesses de vários
empresários, como Carlos Slim, dono da Embratel e da Claro e um dos homens mais
ricos do mundo. Só do bilionário mexicano teria faturado cerca de 10 milhões de
reais. Em seguida, segundo Otávio Cabral, tornou-se “uma espécie de embaixador
de Eike [Batista] na América Latina, abrindo portas e resolvendo problemas”.
Eike pagou, avalia o biógrafo, 6 milhões de reais ao ex-guerrilheiro.
A Ongoing, empresa de
comunicação portuguesa, se tornou o terceiro grande cliente de Dirceu. O objetivo era “construir no Brasil uma
rede de TV, rádio, jornais e internet”. Pela operação, Dirceu recebia 80
mil reais por mês. A Ongoing chegou a comprar o “Jornal do Brasil”, no qual
Dirceu escreve, mas o projeto não foi adiante. O “JB” só na internet
praticamente deixou de existir.
A Vale se tornou outro cliente de peso do escritório de Dirceu, que
faturou 5 milhões de reais por um contrato de quatro anos. O presidente Lula
começou a pressionar Dirceu, trabalhando para que não faturasse empresas
ligadas ao governo. Dirceu não aceitou a pressão e continuou recebendo
dinheiro. “Eu agora sou capitalista”, dizia o ex-guerrilheiro. Ele chegou a
intermediar asilo político no Brasil para o oligarca russo Boris Berezovsky,
mas não conseguiu.
A Delta Construtora
se tornou cliente da JD Assessoria e
Consultoria em 2009. “Em um contrato feito por meio de uma
subsidiária, a Sigma Engenharia, [a Delta] pagava R$ 20 mil por mês para que
Dirceu fizesse lobby no governo de modo a que a empresa conseguisse obras do
PAC. Naquele ano, a Delta, do engenheiro Fernando Cavendish, receberia R$ 733
milhões do governo, o dobro do ano anterior.”
Em
seis anos, de 2006 a 2012, Dirceu faturou cerca de 40 milhões de reais. O
socialista se tornou, de fato, capitalista. Mas perdeu aquilo que mais ama — o
poder — e deve perder a liberdade, o verdadeiro “oxigênio” do indivíduo.
Treze (número do PT) goianos são citados no
Livro “Dirceu — A Biografia”, do jornalista Otávio Cabral: Carlinhos Cachoeira,
Delúbio Soares, Demóstenes Torres, Eduardo Siqueira Campos (seu pai, Siqueira
Campos, militou na política goiana), Enio Tatico, Hamilton Pereira (Pedro
Tierra), Henrique Meirelles, Luciano (cantor),
Marconi Perillo, Neyde Aparecida, Raquel Teixeira, Sandro Mabel (nascido em São
Paulo, mas se fez como empresário e político em Goiás) e Zezé Di Camargo. O Estado de Goiás e Goiânia também são citados.
Carlinhos Cachoeira é
citado duas vezes, às páginas 202 e 320. Na primeira, conta-se a história de
como gravou-se dando dinheiro a Waldomiro Diniz, em 2004. “Ele pedia propina
para si mesmo e dinheiro para a campanha eleitoral do PT. Em troca, prometia
beneficiar Cachoeira em uma concorrência pública”, relata Otávio Cabral. Na
segunda, o biógrafo diz que Lula “chamou” o ministro do Supremo Gilmar Mendes
“para jantar e insinuou que deveria votar pela absolvição [de José Dirceu, José
Genoíno e João Paulo Cunha] se não quisesse ser investigado pela CPI do
Cachoeira”. Aqueles que queriam derrubar o governador de Goiás, Marconi
Perillo, e o então senador Demóstenes Torres, do DEM, espalharam a informação,
falsa, de que o ministro do STF havia viajado para a Alemanha com as despesas
pagas pelo contraventor goiano.
Delúbio Soares é o
goiano mais citado. Seu nome aparece em 31 páginas. O professor goiano,
ex-tesoureiro do PT, era a pessoa encarregada de pagar as contas do PT e,
também, de arranjar dinheiro, com o publicitário Marcos Valério, para aplacar a
fome por dinheiro do PL de Valdemar Costa Neto, hoje mandachuva do PR², e de
outros deputados do PL e do PP. José Dirceu o encarregou de pagar o
publicitário Duda Mendonça. O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, maior
produtor de aço do Brasil, visitou Lula, quando este era presidente, para
denunciar Delúbio, que o estaria pressionando para obter 1 milhão de reais para
o PT. Lula convocou José Dirceu, o chefe político de Delúbio, e disse: “Segura
o Delúbio. O Gerdau veio reclamar que ele está pegando pesado”. Segundo Otávio
Cabral, “Dirceu prometeu advertir o subordinado mas nada fez”. Motivo: Delúbio
era o homem que arranjava o dinheiro para pagar o mensalão, segundo o processo
julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Na página 212, são
arrolados os então deputados federais por Goiás Raquel Teixeira, do PSDB, e
Enio Tatico, do PL. Otávio Cabral faz o relato de como o governador
Marconi (amigo de Dirceu e inimigo
de Lula, é apontado em cinco páginas) advertiu o presidente Lula, em 2014, sobre a
existência do mensalão. Ao
se encontrar com Lula, em Rio Verde, município do Sudoeste de Goiás, “Marconi faria uma grave denúncia: o
governo estava pagando a deputados para que trocassem de partido e dando uma
mesada para que votassem de acordo com os interesses do Palácio do Planalto. E
ilustraria a acusação com dois casos concretos. A deputada federal Professora
Raquel Teixeira, do PSDB, recusara uma proposta para se filiar ao PL em que
receberia R$ 1 milhão à vista e uma mesada de R$ 30 mil. O convite fora feito
pelo deputado Sandro Mabel, que dizia ter o aval de Dirceu. O outro caso era o
do deputado Enio Tatico, que trocara o PSC pelo PL após aceitar os argumentos
de Mabel”. Na página 247, repete-se a história, agora exposta
por Roberto Jefferson (PTB), “de que Sandro Mabel tentara comprar dois
deputados”. Otávio Cabral não apresenta a versão de Mabel e Tatico. Mabel
sustentou várias vezes que não fez qualquer oferta de luvas de R$ 1 milhão e
“salário mensal” de R$ 30 mil à ex-deputada tucana e Enio Tatico.
Na página 211, Otávio
Cabral assinala que o deputado federal Miro Teixeira disse a Lula: “Presidente, eu fui nomeado para ser líder
do governo, não para comprar deputado”. Segundo o biógrafo, Teixeira havia
sido “pressionado por uma comitiva formada pelos deputados Valdemar Costa Neto
(PL-SP), Sandro Mabel (PL-GO) e Pedro Henry (PP-PT). Queriam saber a quem
deveriam recorrer para receber a mesada, ou o ‘mensalão’ — termo usado por
Valdemar”.
O goiano de Anápolis Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston e do
Banco Central, é listado em quatro páginas. Otávio Cabral sustenta que Meirelles não era
primeira opção de Lula para o BC. “Era a sexta opção e só chegou ao cargo
porque todos os demais recusaram o convite.” Detalhe curioso: uma
entrevista de Meirelles ao Jornal Opção, na qual disse que sabia como articular as finanças do país,
foi examinada por Lula e equipe. Sabe-se
que, ao escolhê-lo, Lula não consultou Dirceu. O biógrafo frisa que,
publicamente, Dirceu elogiava Meirelles e o então ministro da Fazenda, Antônio
Palocci. Privadamente, atacava-os. Chegava a incentivar o vice-presidente, José
Alencar, a atacar a política econômica, sobretudo os juros altos.
Demóstenes Torres é
citado apenas uma vez, à página 183. Otávio
Cabral revela que, quando ministro-chefe do Gabinete Civil, Dirceu mantinha
contato com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e os então
senadores Demóstenes (DEM) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO). O
intermediário era o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, sócio
do restaurante Piantella e dono de um requestado escritório de advocacia.
O chefão do
PT “passou” uma noite com bela garota do Big Brother José Dirceu, maior
líder da história do PT, é apontado como mulherengo no livro “Dirceu — A
Biografia”, do jornalista Otávio Cabral. Ele lista 16 mulheres — a maioria pelo
nome. Mas há muito mais, sugere o biógrafo, que apresenta o petista com
paquerador inveterado. Quando foi anunciado que ficaria preso, devido a
condenação pelo MENSALÃO, perguntou logo se teria direito a sexo. A história mais caliente está contada
no capítulo “Um presente entre duas crises”, que começa à página 207. Em
setembro de 2004, um ministro ligou para o chefe da Casa Civil, espécie de
primeiro-ministro sem parlamentarismo: “Zé,
você vai ficar em Brasília amanhã à noite? Tenho que te entregar aquele
presente que prometi”.
Agradecido por ter se tornado ministro com o apoio de José Dirceu,
o político contratou por R$ 30 mil uma garota que havia participado do Big
Brother Brasil e posado nua para uma revista masculina (o
biógrafo não informa se a “Playboy”, a preferida das participantes do “BBB”, ou
a “Sexy”, a prima classe média da outra publicação). O “contrato” era só por
uma noite. Depois da primeira pergunta, o ministro-cafetão ligou: “Seu presente
chegou. Está na suíte presidencial do Hotel Naoum. É só chegar lá e bater na
porta”. Otávio Cabral conta que “Dirceu
seguiu as instruções e encontrou a inesquecível lembrança deitada na cama.
Passaria as duas horas seguintes na suíte. Na saída, enquanto esperava seu motorista, telefonou ao ministro para
agradecer: ‘Cara, você é maluco! Que presente foi esse? Foi a melhor coisa que
eu ganhei na minha vida!’”
Entre as mulheres que
amaram Dirceu estão: Maria Aparecida Sá de Castelo Branco, uma
dançarina chinesa, Iara Iavelberg
(que achava Dirceu inculto e, depois, apaixonou-se por Carlos Lamarca), a dançarina
espanhola Ivone, Heloísa Helena Magalhães (a agente do Dops “Maçã
Dourada”), Silvia, Clara Becker (com quem ficou casado durante anos, sem revelar
que era o Dirceu guerrilheiro; adotou
outro nome, Carlos Henrique Gouveia de Melo, e iludia o povo de uma cidade do
Paraná), Suzana Lisboa, Miriam Botassi, Maria Ângela da Silva Saragoça, uma
mulher casada, Maria Rita Garcia de Andrade, Evanise Santos, uma empresária
paulista (que se apaixonou pelo Dirceu ministro; ela disse: “Eu amo esse homem”
e acrescentou: “Se você perder o
mandato e ficar sem emprego, pode deixar que eu te sustento. Conte sempre
comigo”) e Simone. “Além da política, só as mulheres o tiravam do sério”,
registra o livro.
A Vale se tornou outro cliente de peso do
escritório de Dirceu, que faturou 5 milhões de reais por um contrato de quatro
anos. O presidente Lula começou a pressionar
Dirceu, trabalhando para que não faturasse empresas ligadas ao governo. Dirceu
não aceitou a pressão e continuou recebendo dinheiro. “Eu agora sou
capitalista”, dizia o ex-guerrilheiro. Ele chegou a intermediar asilo político
no Brasil para o oligarca russo Boris Berezovsky, mas não conseguiu.
Depois de “provar” que José Dirceu foi
essencial para o PT conquistar o poder e que, mesmo errando com o mensalão, foi
responsável pela montagem da base de apoio à governabilidade da gestão do
presidente Lula da Silva, o
biógrafo Otávio Cabral relata, no capítulo “O maior lobista do Brasil” — sem compará-lo a outros
lobistas, para comprovar sua assertiva —, que
o ex-guerrilheiro, cassado e afastado da linha de frente do governo federal,
supostamente decidiu ficar rico.
De fato, Lula ganhou, mas a missão inglória de
montar uma base parlamentar no Congresso passou a ser de José Dirceu. Não só. Com o apoio de Delúbio Soares,
começou a reunir dinheiro para pagar as dívidas de campanha do PT e dos
partidos aliados. Ao ser informado das ações,
Lula dizia: “Resolva como você achar melhor, só não me crie problemas”.
Na montagem da base de apoio ao governo de Lula
da Silva, mesmo antes da posse, José Dirceu conversou com o presidente do PMDB,
Michel Temer, que exigiu os ministérios da Integração Nacional e de Minas e
Energia — com “porteira fechada”. “Lula, precisamos resolver o problema do PMDB. Sem eles, nossa
vida no Congresso vai ser complicada. A gente tem que fazer como o Fernando
Henrique e dar os dois ministérios de porteira fechada para eles”, disse Dirceu. Lula replicou: “Não sei, não,
Zé. Tenho medo desse PMDB nos dar dor de
cabeça. Não tem outro jeito de fazer a maioria no Congresso?”. Depois, o
presidente eleito acrescentou: “Você [Dirceu] precisa desfazer esse acerto com o
PMDB. Eu não vou entregar nenhum ministério para eles”. Ciro Gomes e Dilma
Rousseff ganharam os dois ministérios que deveriam ter sido ocupados por
peemedebistas. “Isso vai dar merda”, disse Dirceu. Tinha razão.
Ao se tornar pragmático, o PT começou a negociar
apoio com dinheiro. O PL de Valdemar Costa Neto exigiu de 15
milhões a 20 milhões para apoiar Lula. José Sarney, o rei do Maranhão, e
Antonio Carlos Magalhães, monarca da Bahia, também apoiaram o petista. Lula foi
eleito presidente. A bolsinha não era
mais esfarrapada. O
ex-líder sindical pôs Dirceu para fazer o pacto com o “demônio” — as elites
políticas e financeiras — e ele próprio negociou com os “anjos”,
contaminando-se quase nada.
Com carta branca, Dirceu foi responsável por
três metamorfoses. Primeiro, domou o PT, tornando-o mais
moderado. Segundo, com o auxílio de Duda Mendonça, contribuiu
para que Lula se vestisse melhor, aparasse a barba e melhorasse sua linguagem. Terceiro,
bancou na vice o empresário José Alencar, o que indicou ao empresariado que o
PT não era mais o mesmo. Mas Lula, que não queria Dirceu sozinho, pôs o médico
Antonio Palocci no jogo.
Em 1997,
depois de duas derrotas, Lula diz ao deputado Chico Alencar: “Cansei de rodar minha bolsinha esfarrapada por aí. Para ganhar
eleição, vou precisar de aliança e de grana. Dei todo o poder para o Zé Dirceu
arrumar isso. Falei: ‘Zé, articula e faz. Pode até contratar o Duda Mendonça.
Não quero saber como você fez, só quero que a gente ganhe a Presidência’”. Em 1998, com Fernando
Henrique Cardoso desgastado, Leonel Brizola sugeriu a derrubada de FHC, mas
Dirceu encerrou a conversa: “Se é para botar o Marco Maciel, deixa o FHC
mesmo”.
Realista, enquanto o PT fazia discursos bombásticos, o realista
Dirceu dizia: “O PT não nasceu ortodoxo nem doutrinário. Se a esquerda insistir
em apresentar um programa socialista, não vamos derrotar Fernando Henrique
Cardoso”. Em 2002, ele conseguiu convencer “Lula a contratar Duda Mendonça”. A Carta ao Povo
Brasileiro, para acalmar a sociedade e o mercado, foi uma ideia do
ex-guerrilheiro.
Em
1994, seguindo o PT e Lula, Dirceu desdenha o Plano Real.
Chegou-se a cogitar uma chapa Lula (presidente) e Jereissati (vice), mas a
cúpula tucana rejeitou-a. Candidato a governador de São Paulo, Dirceu ficou nervoso ao saber que Lula
havia prometido apoiar Mário Covas se o PSDB indicasse o seu vice. O Real derrotou Lula para Fernando Henrique Cardoso. Dirceu
e seu protegido Silvio Pereira “foram acusados de desviar recursos da
campanha”. Ele
procurou Lula e disse que não aceitaria qualquer punição do partido e disse que
as mesmas empreiteiras que o bancaram financiaram a campanha nacional. Lula
recuou e Dirceu foi protegido e se tornou presidente do PT. Mesmo
assim, adiante, teria dito, aos berros: “Lula é o maior atraso da
esquerda brasileira. Ele não tem formação política de esquerda. Ele é
oportunista, só se cerca de pessoas que pode controlar. O Lula tem resistência
à esquerda tradicional, à esquerda que militou na luta armada”.
Como deputado, pouco
a pouco passou a ser uma das figuras mais influentes do PT, atacando os
radicais que defendiam a luta armada e trabalhando para uma maior abertura de
alianças no PT. Tornou-se
tão bem-sucedido que Lula o convocou “para comandar sua campanha a presidente
da República em 1989”. No segundo turno, Dirceu operou para atrair o
peemedebista Ulysses Guimarães e o apoio do empresariado, mas Lula
desautorizou-o, arrependendo-se mais tarde. Lula perdeu para Fernando Collor.
Para
controlar o PT, Dirceu criou a Articulação e, desde aquela época, início da
década de 1980, entendeu que, para se fortalecer, precisava criar “pontes fora”
do partido. Indicado
pelo PT, integra a coordenação do movimento das Diretas Já.
Em 1986 se elege deputado estadual e, “pragmático,
avaliava que o PT só chegaria ao poder um dia se abandonasse o sectarismo e
excluísse de seus quadros as correntes mais radicais”. Foi voto vencido.
No fim da década de 1970, José Dirceu volta à
ativa, mas, apesar de
instado por amigos e aliados políticos, como Frei Betto, não se mostra interessado em conhecer Luiz Inácio Lula da Silva. Porque
não tinha apreço pelo movimento sindical. Em 1980, o dominicano apresentou os dois. “Em menos
de meia hora de conversa, já aceitara o convite de Lula para participar da
fundação do Partido dos Trabalhadores”, conta Otávio Cabral. Apesar do
ciúme, um sempre achou que o outro queria o papel de ator principal, Dirceu e
Lula aprenderam a conviver. “Lula,
desde a primeira campanha, percebeu que precisava da capacidade de organização
partidária de Dirceu, que viu na proximidade com o líder carismático, dono de
uma oratória invejável, a grande possibilidade de crescer na política e na
vida.” Lula foi
derrotado na disputa pelo governo de São Paulo, em 1982.
Para voltar ao Brasil, “fez uma cirurgia plástica que mudou sua
face”. A operação foi feita por um médico
chinês. Ao contrário do que dizem alguns de seus adversários, Dirceu realmente se
empenhou em organizar a guerrilha, participou de um assalto, comprou armas para
os companheiros. Mas o Molipo, que começou a enviar seus militantes para o Brasil
“no final de 1970”, parecia não ter compreensão exata do que acontecia no país.
A ditadura estava mais articulada e a guerrilha estava praticamente destruída.
Quase todos os militantes do Molipo foram mortos por militares e policiais. Por que o Molipo foi tão prontamente devastado? Fala-se em delação, mas o
que poderiam fazer 32 pessoas contra uma ditadura estabilizada, com forte apoio
popular — dados o farto consumo e, mesmo, o medo do comunismo — e com amplos
recursos financeiros e armamentos? Não há prova alguma de que Dirceu tenha
delatado os colegas.
Dirceu
volta para Cuba, mas o governo cubano o reenvia para o Brasil, em 1975. Esteve até em Rondônia. Percebendo
que a guerrilha havia sido destruída, Dirceu esconde-se no Paraná, vivendo lá
até a Anistia, no final da década de 1970. Mentiu para Clara Becker, sua
mulher, para sobreviver. Ele vivia com nome falso.
Guevara aproximou
Dirceu de Fidel Castro e de seu irmão Raúl Castro, o chefão das Forças Armadas
cubanas. Ao se especializar em questões militares, o brasileiro se
tornou “homem de confiança dos” hermanos Castro, que o escolheram para
“implantar um novo foco guerrilheiro” no Brasil. O historiador Luís Mir (autor
de “A Revolução Impossível”), citado por Otávio Cabral, sustenta que “suas
opiniões eram vistas com desdém e as propostas que fazia, todas, eram
invariavelmente derrotadas”. Mas, enquanto a vida dos demais esquerdistas brasileiros era
difícil, Dirceu “tinha carro, bebia os melhores runs, fumava charutos
Montecristo e vestia belas fardas”, anota Paulo de Tarso Venceslau. “A voz corrente na esquerda é de
que era agente do G2, o serviço secreto cubano”, acrescenta Paulo de Tarso. O
jornalista Fernando Gabeira corrobora: “Ele repassava ao governo [cubano]
informações sobre o comportamento dos brasileiros”.
Para
se proteger, Dirceu procurou entrar na ALN. Fidel e Raúl colocaram-no para
“liderar” o chamado Grupo dos 28, Grupo Primavera e, depois,
rebatizado de Movimento de Libertação
Popular (Molipo). “Os outros 27
desconfiavam de que fosse agente de Fidel infiltrado. (…) Em um exercício
noturno de sobrevivência no mar, tentaram afogá-lo.”
Em
Cuba, o líder estudantil se torna guerrilheiro de fato.
Em 1970, é submetido a duro treinamento militar na selva, ao lado de 32
brasileiros. Ferido durante num deles, Dirceu, agora com o codinome Daniel, é
apadrinhado por Alfredo Guevara. O
brasileiro morou na casa de Guevara, que era homossexual e os maledicentes
chegaram a dizer que formavam um casal — boato desmentido por
Otávio Cabral, pois Dirceu gostava e gosta mesmo é de mulheres.
Em São Paulo, vivendo
com dificuldade, quase passando fome, Dirceu posiciona-se, desde cedo, contra a
ditadura — indicando que o personagem não é vira-folha. Na PUC, onde cursava Direito, militava no Partido Comunista Brasileiro
e desafiava os professores. Tornou-se presidente do Centro Acadêmico e
defendia os estudantes com vigor. “Dirceu não gostava dos estudos. Brigava com
professores, faltava às aulas daqueles que não tolerava”, conta Otávio Cabral.
Petistas ou dirceuzistas alegam que Otávio Cabral raramente menciona os
nomes das fontes. Mas as informações, mesmo com fontes anônimas, são falsas?
Com Dirceu vivo e, mesmo afastado do centro do poder, ainda influente no PT, e
mesmo no governo federal, as fontes falariam em “on”? Dificilmente. Dirceu não
quis atender o jornalista, mas várias fontes são apresentadas (entrevistas e
perfis de Dirceu foram usados fartamente). E há, é claro, a indústria do
processo. Entretanto, se Dirceu processar Otávio Cabral, estará cometendo um
equívoco: o livro, insistamos, o engrandece, ao mostrá-lo o tempo todo no
centro do poder, articulando e manipulando forças políticas de porte. Pode-se
dizer que, de alguma forma, o poder passava mais por Dirceu do que por Lula.
Fernando de Morais, embora seja um pesquisador criterioso e autor
de pelo menos uma biografia sensacional, “Chatô — Rei do Brasil”, sobre Assis
Chateaubriand, o Cidadão Kane patropi, dificilmente terá independência para
“julgá-lo”. Mesmo assim, por acrescentar a versão de Dirceu (que a tem
apresentado de modo fragmentário), dará, possivelmente, uma sólida contribuição
aos pesquisadores. Ninguém mais adequado para apresentar os “anos
cubanos” de Dirceu do que Morais, darling de Fidel e Raúl Castro há anos. É o
“nosso” Gabriel García Márquez.
Ao término da leitura, fica-se com a impressão
de que Lula, apesar dos dois mandatos e da trajetória vitoriosa, tanto que
contribuiu para eleger dois postes — Dilma Rousseff, a
presidente da República, e Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo —, e
não Dirceu, é um personagem menor, indeciso, navegando ao sabor das circunstâncias
e deixando o trabalho digamos mais “sujo” aos outros, para não sair
contaminado. É provável que,
quando for possível fazer uma avaliação histórica mais precisa, Lula da Silva
se torne um personagem menor do que Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek,
Ernesto Geisel — o general que matou a ditadura — e mesmo Fernando Henrique
Cardoso? Pode ser que sim.
Ao dizer que “José Dirceu de Oliveira e Silva jamais
chegou a lugar nenhum”, Otávio Cabral desconstrói
aquilo que, em quase 400 páginas, edificou com zelo de repórter preciso.
Talvez seja possível dizer que o repórter é mais rigoroso do que o analista.
Aquele que apresenta os fatos, arrolando-os de maneira em geral isenta (o termo
mais preciso talvez seja objetividade) e metodicamente — e, ao contrário do que
“pregam” os petistas radicais, apresentando dúvidas e reticências —, difere,
algumas vezes, do intérprete conclusivo. Sua conclusão, ao contrário da que apresenta,
poderia ser: “José Dirceu de Oliveira e Silva, um político de visíveis
limitações, chegou longe demais”. A biografia é interessantíssima, muito boa mesmo, apesar de suas
limitações, que não são do jornalista, e sim do fato de que Dirceu é mesmo um
personagem enigmático, até camaleônico, que só aos poucos vai sendo decifrado.
Como quase todo político de larga vivência — o petista está no cenário do país
há pelo menos 45 anos —, Dirceu deixou
pistas que, embora pareçam objetivas, às vezes não o são. Talvez sejam cascas de banana dispostas de
modo a fazer o pesquisador escorregar e, especialmente, a não ter uma visão
mais ampla dos fatos. Sua passagem
por Cuba, na qual se tornou uma espécie de xodó de Fidel Castro e Alfredo
Guevara, e sua vida escondida (sob disfarce) no Paraná, mesmo depois de várias
entrevistas e do livro de Otávio Cabral, ainda são passagens nebulosas e que,
por isso, demandam pesquisas mais exaustivas. Quanto ao “julgamento” do personagem não há mal nas
interpretações do biógrafo, que talvez devesse relativizar algumas, apontando
que falta esclarecer alguns pontos. A filósofa Hannah Arendt sugeriu
que é preciso julgar sempre, e com rigor, os personagens históricos — em cima
dos fatos e adiante. Aquele que não julga, talvez para não ser julgado,
está mortíssimo. Julgar e comparar,
em termos históricos e mesmo pessoais, são fundamentais… para esclarecer e
iluminar.
Ao contrário
do que dizem petistas ortodoxos, e até do que sugere Otávio Cabral, o livro
“Dirceu — A Biografia” acaba por fortalecê-lo em termos históricos. O ex-guerrilheiro é responsável pela metamorfose
que levou Lula da Silva à Presidência da República.
O “anão” (José Dirceu)
suposto pelo jornalista “termina”, ao final do ensaio biográfico — não se pode
dizer que se trata de uma biografia exaustiva —, como uma espécie de “gigante”, aquele que, dotado
de um pragmatismo exacerbado, percebeu a mudança dos ventos da história e
contribuiu, de maneira decisiva, para a metamorfose de Lula da Silva. Sem
Dirceu, o petista-símbolo teria se tornado presidente e teria escapado das
teias da radicalidade petista, avessa a alianças com o centro político e,
sobretudo, com a direita? Não sabemos, porque não é possível prever a
história, mas é provável que, sem o homem de Havana no Brasil, Lula tivesse
desistido da quarta disputa, em 2002, depois de três derrotas consecutivas —
uma para Fernando Collor e duas para Fernando Henrique Cardoso (de brincadeira,
pode-se que seu problema era com Fernandos).
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