A Folha de S. Paulo antecipou há uma semana o
que Lula dirá à Justiça no depoimento sobre o escândalo do
mensalão: ouviu o palavrão pela primeira vez em março de 2005, numa
conversa com Roberto Jefferson. O presidente da República mentiu
durante quase cinco anos, deveria ter acrescentado o jornal, que
divulgou no início de junho de 2005 o encontro que Lula sempre negou ter
existido.
E continua mentindo, informa a releitura da entrevista concedida
à Folhapor Jefferson,
então deputado federal e presidente do PTB, que começou a escancarar o
maior escândalo político-policial do Brasil republicano. A conversa no
Palácio do Planalto não ocorreu em março, mas em janeiro. No gabinete
presidencial, Lula ouviu a narrativa ─ testemunhada, segundo
Jefferson, pelos ministros José Dirceu, Aldo Rebelo e Walfrido dos
Mares Guia ─ em silêncio e aparentando perplexidade, declarou-se
grato ao informante e prometeu providências imediatas.
Dez dias mais tarde, no
depoimento à CPI que nasceu para investigar a roubalheira nos Correios mas
acabou devassando o pai de todos os escândalos, Jefferson enriqueceu
com detalhes hiperbólicos o encontro no Planalto. ”A reação do presidente
foi a de quem levara uma facada nas costas”, comparou. “As lágrimas desceram
dos olhos dele. Ele levantou e me deu um abraço”.
Em seguida, decidido a
poupar Lula do tiroteio, o depoente concentrou-se no alvo
preferencial. “Vi um homem de bem se sentir traído por um cordão de isolamento
que havia em torno dele”, mirou no chefe da Casa Civil. “Aí descobri por que a
gente era sempre barrado no Zé Dirceu. No Rasputin”. O discurso foi subindo de
tom até desembocar na exortação famosa: “Saí daí, Zé! Rápido, sai daí rápido,
Zé”.
Zé não demorou a ser despejado, mas as providências
imediatas ficaram na promessa, confirma a reportagem da Folha que revelou as linhas gerais do
depoimento ensaiado por Lula. ele dirá à Justiça que, depois de
ouvir as denúncias feitas por Jefferson, escalou para investigá-las
o ministro Aldo Rebelo e o deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na
Câmara. A dupla de sherloques apresentou em poucos dias as conclusões
do inquérito: não haviam localizado nenhuma evidência, nenhum
indício, nenhuma pista.
Não
enxergaram sequer vestígios da montanha de provas acumuladas nos meses
seguintes. Em vez de dois detetives governistas, trataram do caso a
imprensa, a polícia, o Ministério Público, a CPI dos Correios, a Procuradoria
Geral da República e o Supremo Tribunal Federal. Passados quase cinco
anos, o que se sabe é mais que suficiente para que os integrantes da
organização criminosa sofisticada sofram o castigo merecidíssimo.
Mas Lula repete desde
junho de 2005 que todos os bandidos de estimação são inocentes. Entre as
inumeráveis mentiras que contou, só vai revogar a que ocultou
o encontro com Jefferson. E decerto dirá, mais uma vez, que o
mensalão não existiu. Se o Brasil fosse menos primitivo, o depoente seria
preso por perjúrio, ocultação de provas e obstrução da Justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário