Le fabuleux destin d'Amélie Poulain - 2001
Conversando com uns amigos sobre o filme, um deles
disse que o filme era chato, monótono... Bem, como eu iria convencê-lo de que o
filme era bom demais? Até tentei dizer que talvez ele não tivesse prestado
atenção, mas gosto não se discute. O filme é belo demais, a trilha sonora
é algo “minha filha violinista tocou em um recital”. Tudo no filme é singular,
a narrativa, a expressão de Amélie, uma jovem parisiense, encantadoramente
tímida, exótica e de uma prodigiosa imaginação. Amélie foi privada pelos
pais de contato com o mundo exterior, por acreditarem que ela tinha problemas
de coração. O coração acelerava toda vez que o pai, um médico, lhe fazia exames
cardiológico, ao contrário do que ele pensava, era apenas nervosismo que ela
sentia com a rara aproximação. Educada pela mãe, uma professora, não freqüentou
a escola, cresceu isolada até mudar-se para um bairro parisiense para trabalhar
de garçonete, onde passou a se relacionar com as pessoas.
A partir do dia que entregou uma caixa, que estava
escondida no banheiro de sua casa a um homem, passou a ver o mundo de
maneira diferente. Amélie se apaixona e de forma criativa muda seu destino. A
fotografia é bsatante expressiva no filme, assim como a arte, as cores
resumindo-se em poesia.
Embora seja um filme poético
como refiro-me, ou doce, ele aborda aspectos importantes a existência humana como o próprio existencialismo, sentimentos, enfim, o
comportamento cotidiano das pessoas. E muitas passam pela vida dela, como a
colega mal humorada que faz sexo no banheiro, experimenta a felicidade para
depois chatear-se com o ciúme excessivo do namorado. O homem a quem ela entrega
a caixinha e se impressiona ao vê-lo emocionado. O homem de vidro com sua
sensibilidade, não a dos ossos, mas quanto aos detalhes de sua pintura. O
pintor aconselha Amélie a saltar sem hesitar porque ela não tem ossos de vidro,
podendo suportar as quedas da vida.
Não gosto de ver um filme
duas vezes, exceto se for muito bom. É o caso de “O Fabuloso Destino de Amélie
Polan” que certamente se juntará aos clássicos de cinema.
Olha que coincidência... (????)
Ontem eu assisti pela enésima vez ao filme "Le fabuleux destin d'Amelie Poulain" ou o Fabuloso destino de Amelie Poulain(em Português). Amo esse filme, o tema, a fotografia, a direção, a trilha sonora, enfim, tudo...
Fiquei lembrando que minhas sobrinhas e alguns
amigos me acham muito parecida com ela, às vezes até me chamam de Amelie e
tal..
Pois é..
Hoje, enquanto dirigia para o trabalho, aconteceu
algo muito engraçado.. No som do carro, estava tocando o cd da trilha do filme,
a faixa "Comptine d'un autre ete, l'apres midi", para ser exata.
Nesse momento, um rapaz em outro carro falou para mim: "Amelie, me leva
para Montmartre com você.."
Só consegui dar uma risada e fazer um cumprimento
como se dissesse: "Vamos lá.." :0)
E segui, sem mais delongas..
Estava vindo de uns dias de crise existencial(muito
comuns em minha vida), uma fase muito triste, melancólica e esse episódio me
fez rir naturalmente, me trazendo uma leveza que me deixou muito bem..
Mas pensei: "Putz.. Que coisa... Ontem assisti
mais uma vez a esse filme, agora está tocando o cd do filme, e esse cara me
fala uma coisa dessas! E tudo de repente..."
Essa vida é louca mesmo, viu....
Essa vida é louca mesmo, viu....
Ou não... rs..
Depois disso tudo, lembrei desse texto do Jabor:
Hoje, só as bestas quadradas serão felizes –
Arnaldo Jabor
Fui ver o
filme Amélie Poulain, que está estourando nas bilheterias mundo afora.
Disseram-me que era "esperançoso, um refrigerio para o aterrorizante mundo atual". Armei-me de pipocas e mergulhei no escuro. Adorei. O filme é uma perfumaria , mas eu amei. Durante duas horas, esqueci de mim mesmo. E descobri a verdade inapelável: eu quero, eu preciso me "alienar", como se dizia antigamente.
A "alienação" virou uma necessidade social. O filme é uma fábula simpática de uma "neo-Poliana", uma chapliniana mocinha cheia de compaixão, que modifica a vida dos fracassados e infelizes.
Disseram-me que era "esperançoso, um refrigerio para o aterrorizante mundo atual". Armei-me de pipocas e mergulhei no escuro. Adorei. O filme é uma perfumaria , mas eu amei. Durante duas horas, esqueci de mim mesmo. E descobri a verdade inapelável: eu quero, eu preciso me "alienar", como se dizia antigamente.
A "alienação" virou uma necessidade social. O filme é uma fábula simpática de uma "neo-Poliana", uma chapliniana mocinha cheia de compaixão, que modifica a vida dos fracassados e infelizes.
Saí do
cinema pensando: Amélie, eu quero ser outro. Não quero ser mais eu. Eu não me
agüento mais, quero me "alienar", virar, se necessário, uma besta
feliz. Eu fazia filmes, mas a vida me levou a virar jornalista, profissão que
adoro, mas que me obriga a uma incessante observação do dia-a-dia, fazendo-me
amargurado, num crescente rancor por um país que não se conserta, como queria
minha geração romântica.
Por isso,
Amélie Poulain, venha me modificar, me faça sorrir alvamente, me traga a baba
dos idiotas, venha Forrest Gump, me vidre os olhos de parvoice, venha Prof.
Pangloss, me ensinar a cultivar o jardinzinho dos babacas.
Enquanto milhões de árabes se acotovelam em Meca, unidos na única certeza de Alá, nós estamos sós. Não temos Alá; só temos o cinema americano, nossas religiões são ralas, não nos prostam a rezar para Meca, como lagartixas felizes cinco vezes por dia; vivemos dentro da angustiante democracia liberal, que nos amaldiçoa com esta liberdade inútil.
Por isso,
Amélie Poulain me inspirou uma lista de conselhos de auto-ajuda para nos
devolver uma abjeta e deliciosíssima felicidade neste mundo sinistro.
Eia! Avante, românticos sofredores, cidadãos nostálgicos do Bem, aqui vai um Alcorão substituto, um guia de sobrevivência na selva global. O princípio básico é o “Não” - a negação de evidências, a técnica de nada ver, a “conduta de evitação”, como fazem os fóbicos.
Eia! Avante, românticos sofredores, cidadãos nostálgicos do Bem, aqui vai um Alcorão substituto, um guia de sobrevivência na selva global. O princípio básico é o “Não” - a negação de evidências, a técnica de nada ver, a “conduta de evitação”, como fazem os fóbicos.
“Não”
olhar a miséria nas ruas, evitar os menininhos nos sinais cariocas,
principalmente a nova invenção dos pequenos desgraçados, fazendo malabarismos
com três bolinhas para ganhar esmola, menininhos esfarrapados diante de BMWs
indiferentes.
“Não”
olhar mães com nenéns no colo nos meios-fios e, se por acaso, entrarem em nosso
campo de visão, imediatamente convocar a moral de classe média de que “essas
mães podiam trabalhar, mas não o fazem por preguiça de enfrentar um tanque de
roupa”.
“Não” ver
noticiários, nem ler os jornais ácidos e veristas; não ver, por exemplo, os
desgraçados sem-teto que serão expulsos à bala no Pará, enquanto o Jarbas
Barbalho tem habeas-corpus. Diante da injustiça, blindar-se, lixar a alma,
laquear o coração.
Mas, não
pensem que somente a “alienação” é um bom procedimento. Podemos ser felizes
também com “ideologias”.
Por
exemplo, diante da tal “globalização” da economia, podemos ter duas atitudes.
Uma, é acreditar, lívidos de certeza, que o livre mercado vai tirar o homem de
suas dores e que a riqueza choverá sobre os emergentes, como festas da uva.
Esperança neoliberal. Ou, então, cheios de entusiasmo, como em Porto Alegre,
acreditar que homens e mulheres com camisetas de Guevara e tocando o tambor de
Mercedes Soza ou com as “veias abertas” de amor pela América Latina, como Galeano,
conseguirão reverter a exclusão e a fome, apenas pelo dom mágico das palavras
de ordem. Esperança de “esquerda”.
São as
delícias do auto-engano: nas duas posições, de olhos vidrados, arfantes de
certezas, evitaremos o incômodo de ver a evidente vitória do capitalismo mais
bruto.
Dica de
felicidade: esquecer a Arte. Isso mesmo. Essa tal de “Arte” que sempre nos
evocou um ideal de harmonia, essa saudade da natureza da qual nos exilamos,
essa fome de eternidade tem de acabar de uma vez por todas. Abaixo Bach, Goya,
Shakespeare, Rimbaud e toda uma lista negra de velhos idiotas. Devemos nos
banhar nos filmes americanos, nas audições de axé music, de pagodes e raps, de
bundas e garrafas, até o momento em que, tomados pela revelação pós-moderna,
exclamarmos em lágrimas: “Sim, sim, Schwarzenegger, sim, techno music, sim
Celine Dion, sim Phillipe Starck, sim Grisham, sim, eu vi a luz! Aleluia!"
Outra
dica: tirar da cabeça o velho hábito ocidental do criticismo. Aceitar tudo que
nos é oferecido, com lábios trêmulos de gratidão: “Sim, sim, Silvio Santos,
sim, Ratinho, sim, Edir Macedo, sim, obedecemos...”
Há muitas
formas de ser feliz. Pode ser pela adesão ao princípio do “"melhor dos
mundos”, das pequenas maravilhas do cotidiano: “Ohh... como é belo o amor à vida
que esses favelados têm...” ou por uma transposição fatalista meio oriental :
“Ohh... esta enchente que matou 200 estava escrita - deve ter um lado bom...”
Também é
possível ser feliz pela entrega total a uma infelicidade, a um pessimismo
absoluto tipo Cioran, pela deliciosa alegria dos céticos, pelo desprezo pela
vida lá fora.
Sem
esquecer os “militantes imaginários” que torcem pelo “bem do Homem”, como pelo
Palmeiras, com a consciência limpa, em casa, de pijama.
Meus
mandamentos de felicidade atual não caberiam neste artigo. Mas as regras
básicas são: esquecer os outros e só atentar para si : “Eu sou mais eu..”
Entregar-se
ao consumo: “A felicidade é meu jeans Calvin Klein.”
Entregar-se
ao narcisismo radical: “Não há popozuda mais siliconada na Avenida.”
A busca
da ignorância mais negra: “Não me venha com papos-cabeça!”
Ou mesmo
a adesão ao mais remoto feudo-cabeça: “Fora Mallarmé, o resto é lixo...
E só
assim, “alienados”, com os olhos bem tapados, com o coração lacrado, com o
cultivo da estupidez, com a devoção à baba elástica e bovina dos imbecis,
poderemos chegar à revelação final e, num rasgo de felicidade, amar para sempre
a beleza do excremento!
Tenho
minhas restrições a algumas coisas que o Arnaldo Jabor escreve, mas esse texto,
além de citar o filme em questão, e por isso me fez lembrar dele(do texto),
discorre sobre um tema muito interessante e com o qual concordo em gênero e
número.
Definitivamente
é desesperador esse panorama da realidade em que vivemos.
E como é raro conhecer pessoas como a Amelie, que
se põem disponíveis para tentar melhorar, de alguma forma, a vida das outras
pessoas que a cercam..
O Jabor soube traçar um retrato dessa total
alienação, dessa globalização asquerosa, consumista e cruel, ou como eu
preferiria dizer, dessa disseminação de pessoas “normóticas”. Claro que
construiu seu texto de uma maneira irônica, porquanto não poderia ser
diferente, ou correria o risco de parecer “careta”, ou ultrapassado, mas ao
mesmo tempo, mostra, subliminarmente, que nem tudo está perdido, ou que pelo
menos devemos lutar pela busca de uma felicidade nossa, interna, pessoal, no
meio desse mundo sinistro, angustiante e que só venera o consumo, o narcisismo
e a ignorância.
Mas
sempre me surge uma dúvida:
Será que ser uma
"besta", consumista, narcisista e ignorante, enfim, um normótico, não
seria melhor?? Nesse caso, não precisaria encarar nenhuma luta, não seria
necessário encarar os olhares dos outros censurando seu jeito de vestir, de
ser, de pensar, de agir, de trocar certas situações confortáveis por outras
mais complicadas, por cogitar começar tudo de novo, etc... Era só se adaptar ao
comum, à moda e entrar na "onda"... Simples assim.. Seria muito mais
fácil, não é mesmo? Talvez...
Mas é um fato... Na minha humilde opinião, paga-se
um preço muito alto por ser igual, padronizado... O preço de perder o que você
realmente é. De se tornar o mesmo, o outro..
Na verdade, conseguir ser diferente e singular
nesse mar de rótulos e padrões não é uma luta, é uma guerra!!
Insana!!
Mas que vale muito a pena... Pois só dessa forma, você pode saber quem você é... Assim saberá que não se parece com mais ninguém.. E que portanto não deve nada a ninguém, não está plagiando ninguém, pois aquilo que é seu, que você faz, que está em você só pertence a você... Ser quem você é te dá mais coerência e tranquilidade, para saber aceitar um erro cometido e pedir desculpas, e ficar satisfeito e feliz quando receber um elogio e agradecer. Isto é, quando você se desculpa, foi por um ato seu, só seu, e quando agradece, agradece por você, só por você.. Para mim, esse ainda é o ponto mais próximo que alguém pode chegar da verdadeira liberdade. E isso é ótimo!!! :oP
Bjo.
Música: Comptine d'un autre ete: L'apres midi da trilha do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain.
Mas que vale muito a pena... Pois só dessa forma, você pode saber quem você é... Assim saberá que não se parece com mais ninguém.. E que portanto não deve nada a ninguém, não está plagiando ninguém, pois aquilo que é seu, que você faz, que está em você só pertence a você... Ser quem você é te dá mais coerência e tranquilidade, para saber aceitar um erro cometido e pedir desculpas, e ficar satisfeito e feliz quando receber um elogio e agradecer. Isto é, quando você se desculpa, foi por um ato seu, só seu, e quando agradece, agradece por você, só por você.. Para mim, esse ainda é o ponto mais próximo que alguém pode chegar da verdadeira liberdade. E isso é ótimo!!! :oP
Bjo.
Música: Comptine d'un autre ete: L'apres midi da trilha do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain.
Le fabuleux destin d'Amélie Poulain - 2001
Sinopse
O filme conta a história de Amélie, uma menina que
cresceu isolada das outras crianças. Isso porque seu pai achava que Amélie
possuia uma anomalia no coração, já que este batia muito rápido durante os exames
mensais que o pai fazia na menina. Na verdade, Amélie ficava nervosa com este
raro contato físico com o pai. Por isso, e somente por isso, seu coração batia
mais rápido que o normal. Seus pais, então, privaram Amélie de frequentar
escola e ter contato com outras crianças. Sua mãe, que era professora, foi quem
a alfabetizou até falecer quando Amélie ainda era menina. Sua infância
solitária e a morte prematura de sua mãe influenciaram fortemente o desenvolvimento
de Amélie e a forma como ela se relacionava com as pessoas e com o mundo depois
de adulta.
Após sua maioridade, mudou-se do subúrbio para o
bairro parisiense
de Montmartre,
onde começou a trabalhar como garçonete. Certo dia, encontra no banheiro de seu
apartamento uma caixinha com brinquedos e figurinhas pertencentes ao antigo
morador do apartamento. Decide procurá-lo e entregar o pertence ao seu dono,
Dominique, anonimamente. Ao notar que ele chora de alegria ao reaver o seu
objeto, a moça fica impressionada e remodela sua visão do mundo.
A partir de então, Amélie se engaja na realização
de pequenos gestos a fim de ajudar e tornar mais felizes as pessoas ao seu
redor. Ela ganha aí um novo sentido para sua existência. Em uma destas pequenas
grandes ações ela encontra um homem por quem se apaixona à primeira vista. E
então seu destino muda para sempre.
Existencialismo
sobre Sociofilosofia por Algo Sobre
conteudo@algosobre.com.br
conteudo@algosobre.com.br
Termo usado para designar a
filosofia de pensadores que se preocupam com a existência finita do homem no
mundo, descartando questões metafísicas como a imortalidade e a transcendência. Como é aplicado a filósofos
muito diferentes, há quem negue sua existência como escola de pensamento. Os
nomes mais identificados com o existencialismo são os dos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty
(1908-1961). É um movimento do século XX, mas tem fortes raízes na obra de
filósofos do século XIX, como Sören Kierkegaard (1813-1855) e Nietzsche.
Os existencialistas rejeitam o princípio do
cartesianismo de que o homem existe porque pensa. Para eles, o ser humano pensa
porque existe. A consciência, para os existencialistas, não antecede a
experiência. Ela é parte da existência, que, por sua vez, é construída com a
vivência, o contato com outras pessoas e objetos. O próprio homem cria essa
existência em função de seus sentimentos, desejos e, principalmente, de suas
ações. Ele se forma a partir de suas escolhas.
Por isso, os existencialistas prezam a liberdade e
a responsabilidade e rejeitam o conformismo. Para eles, essa posição estende-se
à política. Depois da II Guerra Mundial, o movimento influencia a literatura.
Tal
como o surrealismo, não determina pontualmente, de modo sensível, a literatura
portuguesa (a não ser na obra do seu introdutor romanesco e filosófico, Vergílio Ferreira, que o teoriza e
pratica de modo apologético e polémico, sobretudo contra a estética
neo-realista, quer na sua narrativa quer no seu ensaio), mas exerce uma
influência decisiva e prolongada mesmo em escritores que dos seus princípios
estão aparentemente distanciados, como José Cardoso Pires ou Urbano Tavares Rodrigues, centrando-os
na temática do absurdo e da necessidade da escolha ativa como afirmação da
liberdade e da negação da morte.
Vida. Jean-Paul Sartre,
novelista francês, teatrólogo, e maior intelectual do Existencialismo, - filosofia que proclama a
total liberdade do ser humano. Foi premiado com o Nobel
de literatura de 1964, que desconsiderou.
Infância e juventude. Sartre nasceu em 21 de junho de 1905 e faleceu em
15 de abril de 1980, em Paris. Ficou órfão de pai muito cedo. O pai, oficial da
marinha, faleceu ainda jovem, dois anos depois do nascimento do filho. Foi, com
sua mãe, Anne-Marie Schweitzer, viver em casa de seu avô materno, Carl
Schweitzer, de origem alsaciana e protestante, professor de Alemão na Sorbone,
em um apartamento no sexto andar de um edifício em Meudon, nos arredores da
capital, nas proximidades do Jardim de Luxemburgo. O célebre pastor Albert Schweitzer, prêmio Nobel da Paz de 1952, era
sobrinho de seu avô, primo de sua mãe.
Sartre estudou primeiro
no Liceu Henrique IV, em Paris. Mais tarde estudou no liceu em La Rochelle,
localidade onde, tendo sua mãe se casado segunda vez, a pequena família passou
a residir.
Após o liceu completou
sua educação ingressando em 1924 na École Normale Supériure, onde se graduou em
1929. Ainda estudante passou a viver com Simone
de Beauvoir (1908-1986) de quem nunca se separou. Na École Normale
foi contemporâneo de escritores que viriam a ser intelectuais de renome, como Raymond
Aron, Maurice Merleau-Ponty, Emmanuel Mounier,
Jean Hippolyte, Claude Lévi-Strauss e a filósofa social esquerdista da
escritora Simone Weil, (1909-1943) ativista na Resistência à invasão alemã e ao nazismo,
cujas obras publicadas postumamente tiveram grande influência no pensamento
social na França e na Inglaterra..
Terminado o curso de
filosofia, fez serviço militar em Tours, como meteorologista.
Nos anos que precederam a
grande guerra Sartre lecionou, entre 1931 e 1933, no Liceu do Havre; em 1933-34
esteve em Berlim, estudando fenomenologia.
De 1934 a 1939 continuou no Havre passando depois para Neuilly-sur-Seine.
Na Alemanha Sartre
iniciou a redação de "Melancolia", romance recusado pelos editores e
mais tarde publicado com o título "A Náusea".
Influências. No período de um ano passado em Berlim, Sartre estudou a
fenomenologia do filosofo alemão Edmund
Husserl (1859-1938), as teorias do existencialismo de Heidegger e Karl Jasper (1883-1969) e a filosofia de Max
Scheller (1874-1928). A partir desses autores, chegou a Soren Kierkegaard (1813-1855).
Durante os anos que
lecionou no Havre, Sartre publicou suas primeiras obras, "A
Imaginação" e "A Transcendência do Ego". Nelas, a começar por
L'Imagination (1936 - "A Imaginação"), explora o método
fenomenológico de Husserl, que propõe a descrição dos objetos como fenômenos
mentais sem qualquer idéia preconcebida ou preconceituosa. Porém, foi a
publicação do La Nausée (1938 - "A Náusea") que lhe trouxe fama. Esse
romance, escrito em forma de um diário, revela os sentimentos de repugnância do
personagem Roquentin, em relação ao mundo material inclusive pela consciência
de seu próprio corpo. O romance contem em suas páginas grande parte das
posições filosóficas que Sartre continuaria depois a desenvolver. Seu herói,
Antoine Roquentin, desocupado, duvidoso de si mesmo, vive sozinho, sem amigos,
sem amante, nada lhe importando, nem os outros homens, nem ele mesmo, descobre,
na vida monótona de Bouville, o mistério metafísico do Ser: o mundo não tem
nenhuma razão de existir e é absurdo que exista. "Tudo é gratuito, a
jardim, esta cidade, e eu mesmo; quando acontece da gente se dar conta disso,
isso atinge o cabeça e tudo começa a flutuar; eis a náusea". Em A 'Náusea,
Sartre parece bastante próximo de Heidegger.
No ano seguinte, publicou
"O Muro" (1939), uma coletânea de contos, e o ensaio Esquisse d'une
théorie des émotions (1939 - "Esboço de uma teoria das Emoções"). O
muro tem por personagem Pablo Ibietta, é uma denuncia do regime do ditador
Franco, da Espanha, sob cujo poder o personagem Pablo Ibietta é preso e
torturado. No ano seguinte publicou L'Imaginaire: Psychologie phénoménologique
de l'imagination (1940 - "O Imaginário: Psicologia fenomenológica da Imaginação"),
um ensaio.
Período da II Grande Guerra. Na primeira fase da guerra mundial Sartre
serviu como meteorologista na Lorena, 1940. Caiu prisioneiro quando Hitler
invadiu a França, e foi encerrado no campo de concentração de Trier (Treves),
na Alemanha ocidental, cidade junto à fronteira com Luxemburgo que foi berço de
Karl
Marx. No período de sua prisão Sartre escreveu uma peça de teatro
que depois não quis contar entre os títulos de suas obras, alegando que fora um
trabalho dentro de um contexto particular, e que a havia escrito apenas para
levantar o ânimo de seus companheiros de infortúnio. É uma peça natalina,
representada pelos prisioneiros no Natal de 1940, e publicada 30 anos mais
tarde com o título Bariona, ou Le fils du tonnerre ( "Bariona, ou O filho
do trovão"). O drama, de inspiração religiosa, fala de Jesus e de Maria,
Sua mãe, que "Trouxe-o no ventre durante nove meses, oferecer-Ihe-á o seio
e o seu leite se tornará o sangue de Deus". Foi solto por razões médicas
(por um alegado problema de visão) um ano mais tarde, na primavera de 1941. Em
liberdade, voltou ao Liceu de Neuilly, passando depois a lecionar no Liceu
Condorcet e no Liceu Pasteur, em Paris. Fundou então o grupo Socialismo e
Liberdade a fim de atuar junto à Resistência. O grupo produziu panfletos
clandestinos contra a ocupação alemã e contra os colaboracionistas franceses.
Em 1943, em plena fase da
guerra, fez a primeira publicação de uma peça teatral, "As Moscas",
que envolve veladamente o comando alemão e os colaboracionistas, e publicou
também o famoso L'Être et le néant (1943 - "O Ser e o Nada"), obra
fundamental da teoria existencialista. O "Ser e o Nada"
subintitula-se "Ensaio de ontologia fenomenológica" e nele Sartre
aprofunda seu pensamento com respeito à consciência humana, como "um
nada" em oposição ao Ser. A consciência é "não-matéria", nada, e
por isso mesmo escapa a qualquer determinismo. Sendo um "nada, ela
"nadifica" seus objetos. A consciência é essencialmente negadora das
coisas em-si mesmas, na medida em que se encontra revestida da característica
ontológica de ser, ela própria, o seu próprio nada.
A teoria da negatividade
da consciência não é senão uma das perspectivas do pensamento de Sartre. Outra
é a de que o outro é o "mediador indispensável entre mim e mim mesmo";
precisamos de outrem para conhecer plenamente a nós mesmos. Mas a relação
primordial com outrem é o conflito. Todo tipo de relação humana está condenado
ao fracasso; através delas nunca atinjo o meu objetivo; a indiferença, o
sadismo, o ódio, o masoquismo, o amor, a linguagem, são diversas manifestações
da minha tentativa, sempre fracassada, de conviver com outrem. Essas obras e
mais "Entre 4 paredes" (1944), rapidamente fizeram dele a mais
célebre dos escritores franceses de seu tempo.
Segunda fase filosófica. Sartre lecionou até 1945. Nesse ano dissolveu
o movimento Socialismo e Liberdade e fundou com Simone
de Beauvoir, Merleau-Ponty (1908-1961), Raymnond
Aron (1905-1983) e outros intelectuais, a revista de filosofia Les
Temps Modernes ("Os Tempos Modernos"), deixando de lecionar para
cuidar deste e de outros empreendimentos literários.
Tendo em uma primeira
fase exaltado a liberdade, que em suas obras anteriores parecia ter valor por
si mesma, agora, após as lições da guerra, Sartre voltou sua atenção para o
conceito de responsabilidade social. Nesta nova abordagem da questão da
liberdade ele planejou, em 1945, uma novela em quatro volumes sob o titulo Les
Chemins de la liberté ("Os Caminhos da Liberdade") dos quais publicou
três: L'Âge de raison (1945 - "Idade da razão"), Le Sursis (1945 -
"Sursis"), e La Mort dans l'âme (1949 - "Com a Morte na
Alma").
Em lugar do quarto volume
de "Os Caminhos da Liberdade", Sartre decidiu que o romance poderia
não ser o melhor veículo de suas mensagens e intensifica a produção de
peças de teatro. Ele já havia produzido nessa área durante a guerra, e agora
escreve vários: Les Mouches (1943), Huis-clos (1944), "Entre Quatro
Paredes" (1945), "Mortos sem Sepultura" (1946) e "A
Prostituta Respeitosa" (1946), Les Mains sales (1948 - "As mãos
sujas"), e continua com Le Diable et le bon dieu (1951 - "O Diabo e o
Bom Deus"), Nekrassov (1955), e Les Séquestrés d'Altona (1959 -
Seqüestrados de Altona"), esta sobre o problema do colonialismo na Algéria
Francesa. Todos essas peças fazem uma abordagem pessimista do relacionamento
humano, enfatizando a hostilidade natural do homem para com seu semelhante,
porém deixam antever uma possibilidade sempre presente de remissão e salvação.
De 1946 são os ensaios
"O existencialismo é um Humanismo", escrito para esclarecer o
significado ético do existencialismo, e "Reflexões sobre a
Questão Judaica". Outras publicações da mesma época incluem um livro,
Baudelaire (1947), um script para o cinema, "Os dadas estão
lançados", na critica literária e psicológica "Baudelaire" e um
estudo sobre o escritor e poeta francês Jean Genet, com o título Saint Genet,
comédien et martyr (1952), "O Fantasma de Stalin (1956), e inúmeros
artigos que foram publicados em seu jornal Les Temps Modernes. Porém em 1955 se
desentende com Merleau-Ponty, com quem mantinha o jornal, por motivos
políticos.
Atividades políticas. Após a II Guerra Mundial, Sartre havia continuado
sua atividade política (nascida ao tempo da Resistência aos alemães) com inclinação
manifestamente esquerdista, tornando-se um ativo admirador da União Soviética,
apesar de nunca ter se filiado ao partido comunista. Em 1954 ele viajou pela
Rússia, Escandinavia, África, Estados Unidos, e Cuba. Porém, a entrada de
tanques soviéticos em Budapeste em 1956, deixaram Sartre desapontado com o
comunismo. Ele escreveu no seu jornal Les Temps Modernes o artigo Le Fantôme de
Staline, no qual condenava veementemente a intervenção soviética e a submissão
do Partido Comunista Francês aos ditames de Moscou. Essa atitude crítica
ensejou mais um livro, Critique de la raison dialectique (1960 - "Crítica
da Razão Dialética") livro sobre afinidades do existencialismo com o
marxismo. É também de 1960 o ensaio "Questão de Método", e de 1964 é
Les Mots ("As Palavras"), uma análise psicológica e existencial de
sua própria infância.
Sartre acusava o marxismo
de se ter ossificado e que, em lugar de adaptar-se a situações particulares,
compelindo cegamente o particular a enquadrar-se em um universal
predeterminado. Quaisquer que fossem seus princípios gerais, o Marxismo
precisava reconhecer circunstâncias existenciais concretas que diferem de uma
comunidade para outra e respeitar a liberdade individual do homem. O projeto de
um segundo volume do Critique foi, no entanto, temporariamente suspenso, e
publicado em seu lugar o Les Mots, que mereceu o prêmio Nobel,
que recusou.
Últimos anos. Muito se tem conjecturado
sobre as verdadeiras razões de haver Sartre recusado o prêmio Nobel, as quais,
aparentemente, não estariam tão claras para ele mesmo, que acreditava na
transparência da consciência. Porém, seria no seu próprio subconsciente, que
ele negava existir, que talvez estivesse a resposta. Foi uma criança
super-estimulada a ser inteligente e vencedora, o que no íntimo ele talvez não
acreditasse ser, sentindo-se um impostor comparado ao célebre pastor, primo de
sua mãe, e ao seu próprio avô, figura solene, vastas barbas brancas, que
"assemelhava-se a Deus Pai", figuras e exemplos em que pivotaram os
estímulos de sua educação infantil. Comparado a esses que seriam para ele os
verdadeiros merecedores do prêmio Nobel, - e um deles de fato recebeu o prêmio,
- Sartre confessa um idealismo, não uma prática da generosidade, e um certo
remorso por não ter sofrido, onde diz, em "As Palavras": "Meu
idealismo épico compensará até a minha morte uma afronta que não sofri, uma
vergonha que não padeci..."
De 1960 até 1971 a atenção
de Sartre concentrou-se no preparo de um estudo em quatro volumes sobre o
famoso escritor francês Gustave Flaubert. Dois volumes, com um total de 2.130
páginas apareceu no início de 1971, contendo minuciosas análises freudianas da
infância e das relações familiares de Flaubert.
Atividades como
conferencias e passeatas como meio de apressar a Revolução socialista passaram
depois a ocupar boa parte do tempo de Sartre. Em 1961 viaja para Cuba e Brasil,
e aqui foi festivamente recebido pelas esquerdas. Pouco escreveu em 1971.
Apesar de tudo, em 1972 publicou o terceiro volume do trabalho sobre Flaubert,
com o título L'Idiot de la famille ("O idiota da família"),
igualmente denso e de leitura fastidiosa.
Em seus últimos anos
Sartre ficou cego e sua saúde declinou até seu falecimento em Abril de 1980
devido a um tumor pulmonar. Teve um funeral impressionante pela massa popular
que compareceu, estimada em 25.000 pessoas.
Sobre o aspecto meramente
literário de sua obra, se diz que poderia ter colocado sua filosofia de uma
forma mais clara e mais breve do que fez em "O Ser e o Nada".
Rubem Queiroz
Cobra
Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia
Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia
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