Catatimia
Adalberto
Tripicchio MD PhD
Apenas
um lembrete que penso ser fundamental em nosso ofício.
Já insistimos que a
divisão da personalidade em áreas tem somente uma utilidade para a didática de
ensino, com o grande perigo de levar à falsa idéia de que essas instâncias
pudessem ter alguma autonomia entre si. Na verdade, somos um permanente
resultado final da fusão sincrônica destas três áreas: emoção, razão e vontade.
Entretanto, poderá haver valências diferentes para cada setor, e, efetivamente,
é o que acaba acontecendo em qualquer transtorno mental: um desequilíbrio
vetorial das forças que estão em conflito no núcleo da personalidade.
A meio termo da patologia encontramos um
humano fenômeno universal, decantado por poetas e filósofos, como em: "O
coração tem razões que a própria razão desconhece" (Pascal). Os povos de
"sangue mais quente" que o digam: não há dúvida que um latino, por
exemplo, é mais passional do que, por exemplo, um anglo-saxão. Em uma metáfora:
o coração fala mais alto que o cérebro.
Catatimia é o fenômeno observado quando a
emoção turva a razão. É ela que provoca os chamados estados passionais,
previstos em lei pelo Código Penal Brasileiro: "... quando o indivíduo
cometer o delito sob forte emoção...", o que permite atenuar a aplicação
da pena judicial, pois o réu não estaria, assim, plenamente consciente (razão)
no momento do delito, e, portanto, não podendo ser totalmente responsável
(responder) pelo mesmo, diminuindo a sua imputabilidade legal e jurídica.
Dificilmente irei esquecer de uma senhora
idosa que visitava regularmente, aos domingos, seu filho interno no Manicômio
Judiciário de São Paulo. Levava-lhe, sempre, seu bolo preferido, e dizia a
todos os demais visitantes que seu filho era a melhor pessoa do mundo, e que
era uma injustiça ele estar ali naquela situação. Bem, essa mãe não conseguia
avaliar, racionalmente, a condição de seu filho, um psicopata homicida
contumaz, já ter, naquela altura, praticado três latrocínios (assalto seguido
de morte), e de modo cruel.
O povo brasileiro tem duas grandes paixões:
futebol e carnaval. O time e a escola de samba de cada um é sempre o melhor do
mundo.
Mesmo um soldado em frente de guerra também é
movido pela catatimia: o amor pela pátria. Em outras palavras, um pedaço de
terra acaba valendo mais que a vida de um ser humano. E assim vai.
Tem-se falado muito em quociente emocional, o
QE, que, para efeitos de empregabilidade tem valido mais que o QI, quociente de
inteligência. Pois é, a inteligência emocional é decisiva na hora de alguém ter
de mostrar seu intelecto. É comum na hora de uma prova, mesmo o candidato
estando bem preparado, dar "branco" acompanhado de angústia, e o
resultado final acabar em reprovação.
A realidade da catatimia nos mostra que nunca
devemos tomar decisões importantes para as nossas vidas enquanto estivermos
fortemente comovidos.
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