domingo, 4 de setembro de 2011

O prisioneiro Bradley Manning - Ivan Lessa


O prisioneiro Bradley Manning

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil

Soldado americano. Pai, idem. Mãe do País de Gales. 23 anos. 1,57 de altura. Fosse na Brasil teria o apelido de “Tampinha”. Mas é e foi nos Estados Unidos da América do Norte.
Vocês conhecem. Aquele do Obama no Municipal no Rio, no Iraque, no Afeganistão e na prisão de Guantánamo, que ele prometeu fechar e não fechou. Obama não é uma pessoa coerente. Obama nesses seus anos de mandato não tem uma única frase ou feito memorável. O mesmo não acontece com o soldado Bradley Manning.

Bradley Manning está preso desde maio do ano passado em condições dignas daquilo que eles mesmos, americanos, chamavam de Terceiro Mundo. Por que Bradley Manning está detido no que é chamado lá por eles de “prisão provisória”? Porque foi o homem que passou para o messiânico “demônio louro” (se não for uma contradição em termos) Julian Assange 250 mil comunicados diplomáticos contando, entre eles, com o notório, e mais que divulgado (conferir no YouTube), vídeo da – não há outra palavra – execução de oito civis iraquianos, entre os quais duas crianças, por soldados americanos sob instruções de um helicóptero. Foram-se oito iraquianos de maior idade ao todo.

A cena, com legendas, foi mostrada pela televisão britânica num documentário da televisão comercial, a ITV, preparado pelo esplêndido jornalista e escritor australiano John Pilger. A horripilante sequência abria o filme. Legendas nas cenas de “combate”, para ficar bem claro. Lá estão aqueles maneirismos militares a que estamos acostumados, graças ao cinema e à televisão. Tudo em meio a muita galhofa. Roger, over, out, copy that e, na ordem vital, ou letal, a sentença vinda dos ares : “Light 'em all up. Shoot.” (Mais ou menos, “Acendam eles todos. Atirem.”) Atiraram. Foram acesos os iraquianos e as duas crianças. 

Bradley Manning não negou ter sido a fonte do vazamento. Sofreu a tal sentença provisória que já dura bom tempo. Não sem antes o porta-voz P.J. Crowley, da secretária de Estado, Hillary Clinton, ter declarado sabiamente que Manning não fora declarado culpado de crime algum e que sua prisão era “contraprodutiva e estúpida”. Crowley foi forçado a se demitir. Claro. Bradley Manning está preso em condições mais que divulgadas, todas dignas da mais cruenta das ditaduras.
Abaixo, a frio e a seco, o seu dia a dia. Sublinho que, se alguém conferir no YouTube, verá nos comentários uma vasta proporção a favor do regime de prisão imposto a Manning.
O soldado americano Bradley Manning, detido em Quantico, onde está situado também o FBI, sem julgamento ou condenação, não tem permissão para se exercitar em sua cela durante o dia. Não tem o direito à posse de coisa alguma.

É proibido de conversar com os guardas seus carcereiros. A cada cinco minutos, é obrigado a responder se se encontra bem e em forma. Se voltar a face para a parede durante o sono é prontamente acordado.
Bradley Manning, que, incrivelmente, ainda mantém um senso de humor, apontou para o fato de que ele poderia, se quisesse, se injuriar com suas cuecas, no que estas foram de imediato retiradas.
Só lhe são permitidas, por uns poucos minutos, visitas aos sábados e domingos. O resto da semana são 23 horas por dia de cela. Recebe ainda uma dose diária de antidepressivos.

O presidente Barack Obama não visitou qualquer delegacia ou prisão no Rio ou em Brasília. Sua senhora, a primeira-dama Michelle Obama, lidera uma campanha contra a obesidade entre crianças.

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 https://youtu.be/2rTg-wlr8Zc via @YouTube