Carlismo de verdade, ai que saudade de você
Durante 20 anos de minha vida, pude acompanhar o trabalho de Antonio Carlos Magalhães, um dos maiores líderes políticos do nosso país, pela nossa Bahia. Nesse período, vi a boa terrinha repleta de obras estruturantes, comandada por um corpo técnico qualificado e, acima de tudo, por pessoas que a amavam.
Admirava e votava em ACM, não apenas por sua competência, mas porque ele sempre mostrou quem era. Para o bem ou para o mal, o velho “cabeça branca” não se valia de máscaras para esconder o que não lhe interessava mostrar. Sempre foi ele mesmo. Em política, isso é raro e faz muita, muita falta.
Agora, acompanho perplexo a tentativa de Antonio Carlos Magalhães Neto de se colocar como a volta do carlismo em Salvador. Jovem, 33 anos, deputado federal mais votado por três vezes, eloquente e carismático. Tudo isso, para qualquer um, o credenciaria para essa empreitada. Mas, para mim, carlista de fé, não. Faltam duas coisas que considero essenciais em qualquer líder: personalidade e vivência.
Como posso votar em uma pessoa que não consigo identificar se é calma, nervosa, democrata, ou seja, de personalidade indefinida? Quem é você? Será que ACM Neto é esse ser tranquilo, versão paz e amor, que não tem vergonha de esconder o nome do avô de sua campanha, que diz conhecer a cidade? Ou aquele raivoso, exaltado, que ameaçou dar um murro em Lula, que negou o carlismo, passa por cima de tudo para conseguir o que quer e vive na sua redoma?
ACM Neto é o que é ou o que disseram que seria melhor ele ser? Essa é uma resposta que ainda não encontrei e me parece cada dia mais distante de tê-la.
No carlismo bruto, versão Coronel Jesuíno, para governar é preciso ter vivência, estar calejado com os problemas. E a Salvador atual é isso, uma cidade problema. Sem dinheiro, autoestima, orgulho, nossa capital pede socorro.
Apesar de todo o esforço pessoal em mostrar o contrário, ACM Neto sempre teve tudo na mão. Nunca passou nenhuma dificuldade na vida. Não quero aqui entrar no discurso “Zé Pobreza” tão evocado nessa época, mas, de fato, faltam experiências de fogo a Neto. Alguém saberia me dizer um grande desafio administrativo que ele tenha enfrentado e superado? Eu não conheço nenhum.
Pior é ir contra a cartilha do avô e dizer que a cidade pode andar com as próprias pernas. Se nem ACM, no auge da sua competência e influência política, conseguiu isso, como o neto, isolado em um partido à beira da extinção, alcançará tal feito.
Qual será a reação dele quando se deparar com a fábrica de pepinos que Salvador possui? Vai manter o discurso de que precisa de gestão ou amarelar, largar tudo às moscas e buscar o governo estadual, como pretende o seu maior apoiador João Henrique?
Por isso, apesar da paixão pelo carlismo, tenho grandes dificuldades em aceitar ACM Neto como símbolo de nossa sobrevivência. Acredito que nós baianos, em especial os soteropolitanos, precisamos de um líder que encarne o espírito vencedor e administrador de ACM não só no sobrenome, mas na vivência do dia a dia. Ai que saudade do carlismo de verdade.
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