segunda-feira, 24 de setembro de 2012

GREGÓRIO DE MATOS - O NOSSO VISIONÁRIO POETA BAIANO, EXCELENTE.

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
                                                       Gregório de Mattos
 
Do livro "História concisa da Literatura Brasileira", de Alfredo Bosi, Editora Cultrix, 1994, SP.
Enviado por: Leninha 

http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/pndp/pndp010750.htm 

***

Análise de três poemas atribuídos a Gregorio de Matos

 Laís Azevedo

À CIDADE DA BAHIA – POEMA 8

Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente,
Pelas drogas inúteis, que abelhuda,
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente,
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote.
AOS VÍCIOS – POEMA 11

Eu sou aquele que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios e enganos.
E bem que os descantei bastantemente,
Canto segunda vez na mesma lira
O mesmo assunto em plectro diferente.
Já sinto que me inflama e que me inspira
Tália, que anjo é da minha guarda
Des que Apolo mandou que se assistira.
Arda Baiona, e todo o mundo arda,
Que, a quem de profissão falta à verdade,
Nunca a dominga das verdades tarda.
Nenhum tempo excetua a cristandade
Ao pobre pegureiro de Parnaso
Para falar em sua liberdade.
A narração há de igualar ao caso,
E, se talvez ao caso não iguala,
Não tenho por poeta o que é Pegaso.
De que pode servir calar quem cala?
Nunca se há de falar o que se sente?
Sempre se há de sentir o que se fala.
Qual homem pode haver tão paciente,
Que, vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire e não lamente?
Isto faz a discreta fantasia:
Discorre em um e outra desconcerto,
Condena o roubo, increpa a hipocrisia.
o néscio, o ignorante, o inexperto,
Que não elege o bom, nem mau reprova,
Por tudo passa deslumbrada e incerto.
E, quando vê talvez na doce trova
Louvado o bem, e o mal vituperado,
A tudo faz facinho, e nada aprova.
Diz lago, prudentaço e repousada:
—Fulano é um satírico, é um louco,
De língua má, de coração danado.
Néscio, se disso entendes nada ou pouco,
Como mofas com riso e algazarras
Musas, que estimo ter, quando as invoca?
Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas
E se foras poeta, poetizaras.
A ignorância dos homens destas eras,
Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas-feras.
Há bons por não poder ser insolentes,
Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não – por não ter dentes.
Quantos há que as telhados têm vidrosos,
E deixam de atirar sua pedrada,
De sua mesma telha receiosos?
Uma só natureza nos foi dada;
Não criou Deus os naturais diversos;
Um só Adão criou, e esse de nada.
Todos somas ruins, todas perversos,
Só nos “distingue o vício e a virtude,
De que uns são comensais, outros adversos.
Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Esse’só me censure, esse me note,
Calem-se as mais, chitão e haja saúde!
AOS PRINCIPAIS DA BAHIA CHAMADOS OS CARAMURUS – POEMA 16
Há cousa como ver um Paiaiá
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente de sangue de Tatu,
Cujo torpe idioma é cobé pá.
A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá.
A masculina é um Aricobé
Cuja filha Cobé um branco Paí
Dormiu no promontório de Passé.
O Branco era um marau, que veio aqui,
Ela era uma Índia de Maré
Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí.
COMENTÁRIOS:
Antes de realizarmos a análise dos três poemas, faz-se mister aduzir que nos referiremos a eles de acordo com a organização elencada na obra Poemas de Gregório de Matos, que consiste numa antologia d’alguns dos poemas pertencentes à escola Barroca, atribuídos ao poeta baiano.
Isto posto, falaremos, primeiramente, do poema onze, cujo tema é a corrupção que assola à Bahia. Nesse, o eu-satírico tece críticas mordazes ao povo baiano. Para isso, lança mão de vinte tercetos, isto é, estrofes compostas por versos, onde “o primeiro e o terceiro verso rimam entre si com o segundo da estrofe anterior” (Malard, 1997, p. 51). Ademais, ele adotou, outrossim, versos de onze silabas, o chamado hendecassílabo. Além disso, o escritor recorreu a vários tropos, destacamos a metáfora e a ironia. No tocante ao primeiro, podemos encontra-lo em diversas partes do verso. A metáfora, por sua vez, fica evidente, por exemplo, no décimo sétimo soneto.
Calcando-se no que foi aludido acima, vejamos como o poeta trabalha com a sátira e a cidade.
Nas três primeiras estrofes, o sujeito-satírico mostra que com sua lira já cantou os diversos males do Brasil, e os cantará outra vez, porém, desta vez por meio dum plecto diferente, isto é, lançará mão da Terça Rima. Interessante notar a referência à lira, que era um instrumento usado pelos gregos para acompanhar os poemas líricos. Entretanto, se a lira dos antigos era usada para cantar, na maioria das vezes, os amores, na mão da persona satírica gregoriana suas cordas acompanharão versos ácidos contra a sociedade baiana. Na terceira estrofe, ainda sobre a relação com a poesia produzida na antiguidade clássica, que foi posteriormente retomada pelos classicistas nos quinhentos, vemos o sujeito-satírico declarar que está sendo amparado também por Apolo — que é o deus da luz, das artes e da beleza — e por Talia — musa da comédia e das idilias. Essa última de fundamental importância, mesmo levando em consideração que a sátira distingue-se em alguns pontos da comédia, todavia uma possui elementos da outra. 

Nos versos sete e oito, o eu-satírico diz que não pode ficar calado, pois ele está a ver o lamentável estado de sua cidade. Sendo assim, chama a atenção dos ignorantes, que por hipocrisia, falta de conhecimento e medo de falar preferem ficar calados. Partindo disso, poder-se-ia afirmar, então, que a persona satírica coloca-se no papel daquele que sabe a verdade e não tem medo de expô-la.
Para findar a análise deste poema, retomemos, agora, a invocação da musa Talia feita no sétimo verso do poema. Na mitologia grega, Talia era, como já dissemos, musa da idília, que consiste numa forma de poema curto que visava descrever a vida rústica, pintava o pastor, o animal e o ambiente. Ora, sendo assim, podemos ver que os animais no poema atribuído a Gregório de Matos, são os néscios, “as bestas feras” tal como ele canta na estrofe quinze. Já o pastor é o sujeito-satírico, isto é , pegureiro do Parnaso. Contudo, se nos idílios o tema era o de falar, mormente, da felicidade da vida, no poema onze essa ideia é descartada, haja vista que a persona satírica quer tocar nas chagas da cidade. 

Doravante, ater-no-emos à analise de dois sonetos: oito e dezesseis. 

No soneto oito — forma de disposição dos versos criada pelo italiano Petrarca, que consiste em duas estrofes formadas por quatro versos e duas estrofes finais de três versos — o tema é a decadência financeira da Bahia, que por sua vez, está ligado ao anticolonialismo. Acreditamos que este poema possui um gênero híbrido, ou seja, imiscuí a sátira e a lírica. É importante ressaltar que segundo Teixeira Gomes (1985 apud Malard, 1997, p. 44), o autor do poema recorreu a um discurso lírico atribuído a Franscisco Rodrigues  — poeta português que viveu no século XVI e XVII —, que angariou bastante sucesso na época.  

No tocante às rimas, elas são distribuídas da seguinte forma: ABBA nos quartetos e CDE nos tercetos. De mais a mais, vale salientar que os versos são decassílabos à Os Lusiadas, do poeta luso Luís de Camões. 

Com os elementos formais supracitados, partamos agora para a interpretação.

No poema, nos deparamos com um sujeito-lírico que lamenta a situação da Bahia em seu tempo. Destarte, ele identifica-se com a cidade, que nesse caso é personificada — eis aí uma figura de linguagem: a prosopéia —, haja vista que ambos compartilham os mesmos sentimentos de angústia que outrora não eram possíveis, posto que a Baia vivia momentos melhores. A segunda estrofe, por sua vez, coloca no cerne o comércio, que é responsável pela eclosão da bancarrota financeira tanto da cidade, como do sujeito-satírico. O do primeiro origina-se no comércio com os ingleses, a Bahia cede o valioso açúcar (cabe ressaltar que nesse período o produto de maior valia na colônia era o açúcar) e recebe as inúteis drogas. A do sujeito-lírico está calcada, por sua vez, as trocas que fazem sobre sua pessoa; isso pode ser lido como uma denúncia acerca das relações de negócio que se davam entre os cidadão baianos. 

No remate do soneto há uma mudança de posição do sujeito-lírico. Se nos outros versos ele coloca a Bahia como uma vítima dos mercantes, no último terceto a persona lírica, valendo-se dum tropo — a metáfora — clama a Deus para que ele puna a cidade fazendo com que ela vista uma simples roupa de algodão, em outras palavras, uma indumentária trajada pelas pessoas de baixa condição social e pelos escravos. Contudo, ele não deseja para si as mesmas pragas que rogou à Bahia.

O soneto dezesseis, composto em versos decassílabos que seguem o padrão de rimas ABBA nos quartetos e CDC, DCD nos tercetos, traz à tona o tema das posições sociais na cidade. Utilizando a sátira, o eu-satírico vai apontar  um dos elementos que lhe desagrada fortemente, a ocupação de cargos de relevância por homens, Caramurus, que possuem algum parentesco indígena. Desta maneira, usando versos que têm diversas palavras indígenas, ele ridiculariza esses homens de alto cargo. Num viés romântico, isto é, calcado no projeto de literatura iniciado no século XIX, quiçá, afirmar-se-ia que o poeta, pelo fato de utilizar palavras indígenas, não estaria ridicularizando o índio, visto que ele fala de algo ligado aos autóctones brasileiros. Entretanto, como estamos diante duma sátira, percebe-se claramente que os vocábulos indígenas corroboram para depreciar ainda mais estes homens. Baseando-se no que foi explicitado anteriormente, vemos que o sujeito-satírico mostra-se insatisfeito com o modo de como a hierarquia, no que tange ao poder, se dá na Bahia.

Por último, não poderíamos deixar de ressaltar que a tríade de poemas atribuídos a Gregório de Matos — objeto de análise neste breve trabalho — continuam, dum certo modo, assaz atuais. As mazelas da colônia denunciadas nas sátiras gregorianas, principalmente as concernentes aos assuntos políticos, ainda, nos dias de hoje, em pleno final da década de 2000, continuam bastante pertinentes à sociedade brasileira. Infelizmente, o Brasil ainda sofre com a corrupção desenfreada que assola os três poderes.

REFERÊNCIAS:
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
____________.História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix 2006.
____________.Sobre alguns modos de ler poesia: memórias e reflexões. In: Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 1996.
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula.  São Paulo, Ática, 1998.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14 ed. rev. e atualizada. São Paulo: Ática, 2006.
MATOS, Gregório de. Poemas de Gregório de Matos: por Letícia Malard. Belo Horizonte: Autêntica Ed., 1998.

Leia também:
  1. Três poemas de Gregório de Matos: análise
  2. “Desenganos da vida humana, metaforicamente”, uma análise dum poema de Gregório de Matos
  3. “Dous ff”, de Gregório de Matos
  4. “O Amor”, de Gregório de Matos
  5. Análise de quatro poemas concretos/concretistas

http://www.literaturaemfoco.com/?p=1993

GREGÓRIO DE MATOS

Gregório de Matos Guerra (Salvador, 23 de dezembro de 1636[1]Recife, 26 de novembro de 1695),[2] alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, foi um advogado e poeta do Brasil colônia. É considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no período colonial.[3]

Biografia

Gregório nasceu numa família com o poder financeiro alto em comparação a época, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era português, natural de Guimarães). Legalmente, a nacionalidade de Gregório de Matos era tecnicamente portuguesa, já que o Brasil só se tornaria independente no século XIX. Todos que nasciam antes da independência eram luso-brasileiros.
Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.
Em 27 de janeiro de 1668 teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador.
Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II, rei de Portugal, nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da , um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil.
O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido.
Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.

Frontispício de edição de 1775 dos poemas de Gregório de Matos.
Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.
Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição. Acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão. A acusação não tem seguimento.
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola.
Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, ainda que não possa voltar à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola. Porém, minutos antes de morrer, pede que dois padres venham à sua casa e fiquem cada um de um lado de seu corpo e, representando a si mesmo como Jesus Cristo, alega "estar morrendo entre dois ladrões, tal como ao ser crucificado".

Alcunha

A alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador, como neste soneto:
Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

Obra

Em 1850, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na colectânea Florilégio da Poesia Brasileira (em Lisboa).
Afrânio Peixoto edita a restante obra, de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de Letras, excepto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James Amado.
A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de alguns de seus versos.
Entre seus grandes poemas está o "A cada canto um grande conselheiro", no qual critica os governantes da "cidade da Bahia" de sua época. Esta crítica é, no entanto, atemporal e universal - os "grandes conselheiros" não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que "nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro". A figura do "grande conselheiro" é a figura do hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar aos seus. Em resumo, é aquele que aconselha mas não segue os seus preceitos.

Poemas

  • Beija-flor
  • Anjo bento
  • Senhora Dona Bahia
  • Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia
  • Finge que defende a honra da cidade e aponto os vícios
  • Define sua cidade
  • A Nossa Senhora da Madre de Deus indo lá o poeta
  • Ao mesmo assunto e na mesma ocasião
  • Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu
  • A NSJC com actos de arrependido e suspiros de amor
  • Ao Sanctissimo Sacramento estando para comungar
  • A S. Francisco tomando o poeta o habito de terceiro
  • No dia em que fazia anos
  • Impaciência do poeta
  • Buscando a cristo
  • Soneto - Carregado de mim ando no mundo
  • Soneto I - À margem de uma fonte, que corria
  • Soneto II - Na confusão do mais horrendo dia
  • Soneto III - Ditoso aquele, e bem-aventurado
  • Soneto IV - Casou-se nesta terra esta e aquele
  • Soneto V - Bote a sua casaca de veludo
  • Soneto VI - A cada canto um grande conselheiro
  • Triste Bahia

Referências

  1. "Apresentação", Fundação Gregório de Mattos, Salvador, BA, BR: Secretaria da Cultura.
  2. Gregório de Matos e Guerra. Uma visita ao poeta, BA, BR: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia e Fundação Casa de Jorge Amado.
  3. Peres, Fernando da Rocha, Gregório de Matos e Guerra. Notação Biográfica, BA, BR: UFBA.

Ligações externas

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Gregório_de_Matos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gregrio_de_Matos

Gregório de Matos Guerra

“Eu sou aquele, que passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios, e enganos”
Esse era Gregório de Matos Guerra, o “Boca do Inferno”. Com seu espírito crítico, satirizava políticos, comerciantes, clero, colonizadores e até mesmo o povo. Para isso, usava palavrões e um vocabulário bem baixo em suas obras.
Nasceu supostamente em 7 de abril de 1633 na Bahia e morreu em Recife em 1696. Veio de uma família rica que possuía dois engenhos de cana-de-açúcar e 130 escravos.
Educou-se em casa e no colégio jesuíta. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e lá exerceu a profissão sendo, inclusive, juiz de órfãos.
Em 1681, quando voltou para o Brasil, foi vigário-geral e tesoureiro-mor, porém, durante este período recusou-se a usar a batina e denunciou injustiças da Ordem em que servia. Por causa disso, o Bispo ordenou seu afastamento.
Escreveu poesia lírica, satírica e religiosa. Suas poesias satíricas possuem um ótimo material do ponto de vista sociológico e lingüístico (já que o autor usava um vocabulário bem popular). Nelas o escritor narra episódios da vida popular, cotidiana e política. Através delas podemos conhecer melhor a sociedade da época (período colonial).
A poesia lírica de Gregório de Matos também é muito boa e pode ser dividida em:
- Poesia lírico-amorosa
- Poesia lírico-filosófica
- Poesia lírico-religiosa
POESIA LÍRICO-AMOROSA

Características

- O amor é retratado como fonte de prazer e sofrimento;

- A mulher é retratada como um anjo e fonte de perdição (pois desperta o desejo carnal).

TEXTO

Rompe o Poeta com a Primeira Impaciência Querendo Declarar-se e Temendo Perder Por Ousado

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.



Vocabulário

Uniformar: tornar uniforme, com uma só forma

Galharda: elegante 

POESIA LÍRICO-RELIGIOSA

Características

- O autor está dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e busca a salvação);

- O autor vê o pecado como um erro humano, mas também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão;

- O eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia).

TEXTO

Ao mesmo assunto e na Mesma Ocasião

Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória

Vocabulário
Despido: despeço
Sobeja: sobra
Cobrada: recuperada
POESIA LÍRICO-FILOSOFICA
Características
-Pessimismo
-Angústia diante da vida
-Temas abordando o desconcerto do mundo e a instabilidade dos bens materiais
TEXTO

Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol a Inconstância dos Bens do Mundo


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.



Vocabulário:
Pena: dor, sofrimento

Gregório de Matos foi o maior nome do Barroco brasileiro. Casou-se e pouco tempo depois abandonou a mulher e a carreira de advogado para ser repentista no Recôncavo Baiano.

Em uma de suas sátiras ofendeu o governador da Bahia – Antonio Luis da Câmara Coutinho – e foi preso e exilado para Angola. Teve autorização para voltar para o país (mas não para a Bahia), foi para Recife e morreu em 1696.

A obra de Gregório de Matos foi publicada pela Academia Brasileira de Letras cerca de 230 anos depois da sua morte. Por causa disso, muitos de seus poemas se perderam e muitos textos que levam o seu nome são de autoria duvidosa, já que Gregório de Matos teve muito imitadores anônimos.

http://www.infoescola.com/escritores/gregorio-de-matos-guerra/

 



 


     

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