SOBRE O METRÔ DA CORRUPÇÃO
Samuel Celestino
A história do metrô de Salvador é um
exemplo da safadeza, da inoperância e da corrupção que nunca foi contada.
E não duvidem se não o for. A terceira maior cidade em população do País está
entre as principais capitais mais pobres. Não custa repetir o que todo mundo
sabe: 80% dela estão na zona da pobreza e das oito maiores regiões
metropolitanas, é a campeã do desemprego, um retrato que se mantém vivo e
inabalável há mais de uma década. Já na época em que Manoel Castro
era prefeito, nos anos 80 (governo João Durval), ele anunciou a falência da
capital baiana.
Nada, absolutamente nada foi feito. Na sequência, Fernando José fez uma das
piores gestões de que se tem notícia, com Salvador sitiada pelo lixo. A administração Lídice da Mata também foi
ruim, também foi sitiada, mas pela política carlista que não permitia que os
recursos federais chegassem à capital e, no final do seu período, com a justiça
baiana dominada, o falecido senador ACM conseguiu que a receita municipal fosse
seqüestrada nos últimos três meses de gestão. Com Imbassahy começa o metrô. Salvador foi, então, sustentada (ele
dirá que não) por socorros eventuais dos cofres do Estado. O governo João
Henrique está aí e é mais do que contemporâneo para merecer comentários ou
divagações sobre a pobreza, mas nele continuam a saga do metrô e seus
mistérios.
O enigma do metrô de Salvador começa do
seu início, supostamente (há de se comprovar) com trapaças na sua licitação,
onde as empreiteiras se engalfinharam e aparece, afinal, a Siemens, que teria
sido derrotada. Surgiu no lugar da italiana Impreglio, que teria participado, não para construir a
estrutura do trenzinho, porque não tinha nenhuma base de sustentação em
Salvador, portanto começaria do zero. Seria obrigada a deslocar equipamentos o
que não valaria a pena. Ou seja: provavelmente (é o que se supõe e o que na
época se falava) participou da licitação para negociar com outra empreiteira (a
Siemens). As baianas Odebrecht, OAS, e a
Constran teria se juntado à sombra, o que foi chamado de “consórcio oculto”.
Desde que ocorreu a licitação,
portanto no berçário da maternidade desta mentira chamada metrô, sabia-se que
havia enigmas a serem decifrados. As três empreiteiras formaram um consórcio
também enigmático. O metrô de Salvador começou a dar problemas na sua origem e,
a partir daí, por diversas vezes o governo federal (TCU) determinou a suspensão
da remessa de recursos pela constatação de “erros” na execução do cronograma, ou
pela falta de prestação de contas pelo tal consórcio e pela Prefeitura. A cada
investida do Tribunal de Contas da União os operários eram demitidos pelo
consórcio (pressionando para ter dinheiro) e, posteriormente, com a remessa de
recursos, o canteiro de obras era reativado. Os operários recontratados. Virou
uma espécie de iô-iô, um pára e recomeça sem fim.
No governo Lula vem o mais curioso,
senão desaforo ou punição ao projeto-mistério do metrô.
Punição paga pela população carente que
necessita de um eficiente sistema transporte de massa: o projeto, que previa na sua primeira etapa uma extensão de 42 km de
trilhos, foi
reduzido para 6 km .
Ou seja, abriu-se espaço para o absurdo e a gozação. Desapareceram, ou roubaram 36 km . E a corrupção continuou. De tal
maneira que, para os habitantes desta cidade, o metrô passou a desinteressar. Virou sinônimo de roubalheira. Quanto
mais demora, mas engole recursos públicos.
Todas as grandes capitais brasileiras têm um sistema correto, Recife
inclusive. Menos esta cidade antes hospitaleira, agora amedrontada por
marginais que espraiam insegurança e temor na população.
Salvador perdeu a sua identidade;
perdeu o que tinha de civilidade; perdeu, enfim, a vergonha, também roubada pelas
administrações públicas nas três esferas: federal, estadual e municipal.
Não há nada de novo nesta recente
onda em que se discute o metrô. Quando existir, quando o ferrorama ficar pronto,
não vai prestar. Tudo indica que será uma frustração total. Espera-se que o
Ministério Público decifre o enigma, o metroduto dos recursos públicos,
apontando os bolsos salafrários e acochado pelo dinheiro dos contribuintes.
Porque o resto é do conhecimento de quem é, minimamente, informado sobre o que
acontece em Salvador e na Bahia como um todo.
Como as investigações estariam a
correr em sigilo, nada se fala. Silêncio geral. A Prefeitura deveria se
pronunciar, já que a enrolada vem de longe, e exigir que se apure tudo. É da
sua responsabilidade, na medida em que representa os munícipes, mesmo que o
objeto seja um ferrorama vagabundo. Mas, não. Também guarda sigilo. Sigilo de
quê? Não pode publicamente pedir explicações ao TCU e ao MP? Bem, registre-se que
repousam dúvidas sobre o Metrosal, órgão gestor municipal encarregado de
administrar o projeto e fiscalizá-lo. Até
aqui, prefere-se o silêncio do Campo Santo.
O metrô de Salvador, enfim, é uma
bomba que, mais cedo ou mais tarde terá que explodir espalhando estilhaços de
burocratas, de empreiteiros, de políticos, de empresas, dos governos da cidade,
do estado e federal. Até agora, o que existe mesmo é apenas a desfiguração da
cidade, com aquele “elevado” horroroso da Av. Mário Leal Ferreira, a Bonocô, que
deve ter sido construído no alto para esconder da população a dinheirama
correndo sobre trilhos virtuais, ou não. Poderia passar pelo canteiro central
da avenida, mas disseram que prejudicaria os sistemas de infraestrutura (?).
Enfim, por ora o que está mesmo
claro é que este trenzinho de mentira mal esconde a desfaçatez da
corrupção.
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