Oxumarê
Orixá da riqueza e da prosperidade, Oxumarê tem a forma mitológica dupla da serpente, no aspecto feminino, e do arco-íris, no aspecto masculino. É entendido como a energia que nos capacita a manter nossas conquistas. “Oxumaré é a mobilidade e a atividade. Uma de suas obrigações é a de dirigir as forças que produzem o movimento. (…)
Ele é o símbolo da continuidade e da permanência e, algumas vezes, é representado por uma serpente que se enrosca e morde a própria cauda. Enrola-se em volta da terra para impedi-la de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim do mundo.”1 Nessa descrição de Verger podemos encontrar as características básicas dessa grande força.
Enquanto energia que dirige as forças do movimento, seria como que a continuação da aplicação perfeita da dinâmica energética quando seguisse a força de Ogum. Este responsável pela explosão inicial e conquista de todas as demandas seria complementado perfeitamente pela atuação de Oxumarê que seria o responsável pela manutenção dessas mesmas conquistas.
Um sem o outro, nesse sentido, nada realizariam. Ogum sozinho é o grande conquistador que não se preocupa com a boa administração de seu reino. Vimos anteriormente o mito no qual ele prefere ir caçar a governar os Orixás devidamente. Já Oxumarê necessita do impulso inicial a partir do qual flui em sua dança cósmica.
Oxumarê se apresenta como serpente e como arco-íris. Algumas noções míticas africanas remetem ao fato de que o arco-íris seria gerado pela passagem de uma serpente mágica através do firmamento. Tanto a serpente como o arco-íris são elementos simbólicos riquíssimos em inúmeras tradições. É no final do arco-íris que encontramos potes de ouro entre outras riquezas. É a serpente que, no Éden cristão, serve como meio para a corrupção dos seres humanos originais. Figuras bastante contraditórias e, como tais, fundamentalmente complementares, formam a noção mitológica de Oxumarê. Considerado filho de Nanã e irmão de Omolu, carrega em seu culto elementos que o ligam à sua família arquetípica. O brajá, amarrado de búzios sobrepostos, é um elemento bastante significativo deste Orixá. Como os búzios simbolizam dinheiro, sua utilização representa a própria riqueza. Além disso, o brajá teria aparência de uma pele de cobra remetendo ao Orixá da Prosperidade.
Devido à seu caráter extremamente dual, Oxumarê recebe os mais diversos entendimentos. A valorização de seu papel de Senhor da Riqueza e da Prosperidade gera nos fiéis uma admiração e uma aproximação instantâneas do seu culto. Na diversidade da Umbanda muitas vezes vemos seu culto se confundir com o de Oxalá. Isso se dá por inúmeros fatores entre eles o da apresentação multicor de Oxumarê, indicando sua abrangência divina. O branco de Oxalá é o mesmo que todas as cores de Oxumarê. Ambos teriam manifestação bastante ampla e muito ligada ao Deus supremo, Olorum.
Foi Olorum que, nos mitos, prende Oxumarê no céu onde esse Orixá passa a viver para sempre, na forma de arco-íris, representante do mesmo elemento ar que caracteriza Oxalá. O culto à Oxumarê, em seu caráter dual, se confunde ainda com o culto à Oxum em muitas Casas de Umbanda. Não é de todo despropositada essa mistura. Nem pode ser explicada somente como uma confusão entre os nomes desses dois Orixás. Acontece que Oxumarê também tem forte ligação com as águas, demonstrada pela noção de que não há arco-íris sem chuva. Além de sua relação com as águas, esse Orixá, no papel de deus da prosperidade, invoca a riqueza no mesmo sentido que muitas vezes é atribuída à Oxum, a senhora do ouro. Outros tantos pontos em comum podem ser vistos entre este Orixá e Oxalá ou Oxum, assim como outros ainda, mas devemos compreender que não se trata da mesma força e nem de forças que devem ser confundidas.
Como vimos, Oxumarê tem caráter bastante controverso. Sua ligação com a terra enquanto serpente, além de sua ligação com a água e com o ar enquanto arco-íris podem gerar muita confusão se não forem estudados com cautela.
Por isso, pode ser considerado um Orixá bastante raro de se consagrar na cabeça de um filho. Algumas casas só permitem haver um filho deste Orixá por vez em suas correntes, tamanha é a delicadeza dessa força. Em outras tradições, pode não ser tomado com tanta cautela e de forma mais permissiva. Mesmo assim, os filhos deste Orixá são bastante incomuns. O que não significa que raras são as pessoas que com Oxumarê tem grande afinidade, muito pelo contrário. Verger aponta esse Orixá como “o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas; das pessoas pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem sacrifícios para atingir seus objetivos. Suas tendências à duplicidade podem ser atribuídas à natureza andrógina de seu deus.
Com o sucesso tornam-se facilmente orgulhosas e pomposas e gostam de demonstrar sua grandeza recente. Não deixam de possuir certa generosidade e não se negam a estender a mão em socorro àqueles que dela necessitam.”2 Já Beniste atribui ao filhos deste Orixá as seguintes características: “tendências à riqueza – generosidade – não negam ajuda – Tem beleza – são elegantes e despertam atenções – são pessoas dadas a surpresas – dinâmicos e curiosos – inteligentes, espertos, pacientes, perseverantes, exibicionistas, raivosos – possuem cacoetes – são uma cobra embrulhada num papel de presente – dão o bote sem esperar”.3 No corpo humano, Oxumarê rege a coluna vertebral e seus filhos quando tomados pelo Orixá podem se movimentar de forma impressionante como se não tivessem presos aos ossos.
Origem do nome | Incerto. Possivelmente derivado da junção entre Oxú (monte, morro) e Marê (grande, infinito), ou seja, Monte Infinito ou Morro Grande, alusão à forma do arco-íris quando este toma todo o céu. |
Mantra | Aroboboyi Oxumarê! |
Toque | Bravum |
Qualidade divina | Oxumarê é a energia que nos possibilita manter nossas conquistas. É o dinamismo responsável que encaminha o movimento. É a beleza do arco-íris com sua magia e profunda significação assim como a agilidade da serpente também de plena significação simbólica. |
Instrumento/Insígnia | Arco de Oxumarê (arco-íris) e Dã (serpente) |
Sincretismo | São Bartolomeu (catolicismo), São Patrick (cristianismo e mitologia céltica) |
Astro canalizador | Urano |
Fase lunar | Crescente |
Campo de ressonância | Campos altos e matas |
Cor | As cores do arco-íris (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul claro, azul índigo e violeta) ou o verde e amarelo |
Número | 11 |
Odu | Oworin e Ogbé Ogundá |
Flores | Flores do campo |
Essências | Tangerina |
Imãs (comida) | Batata doce, Feijão fradinho no azeite-de-dendê, tangerina |
Libação (bebida) | Licor de tangerina |
Metal | Bronze |
Pedra | Fluorita |
Datas comemorativas | 17 de março, 24 de agosto |
Dia da semana | Terça-feira |
Horário vibratório | 18h às 24h (serpente) e 6h às 12h (arco-íris) |
Número de Folhas | 11 |
Ervas | Erva-de-Passarinho (Àfòmón); Capim Pé-de-Galinha (Àlùpàyídà); Amendoim (Èpà); Jibóia (Ewé Dan); Batata-doce (Ewé Orí ou Ewé Kúkúndùnkú); Palha-da-costa (Ìkó); Quiabo (Ilá); Bananeira (Ewè Ekó); Samambaia-de-poço (Òmun); Dracena-verde-e-amarela (Pèrègún Kò); Tomateiro. |
[1] VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6. ed. Salvador: Corrupio, 2002. p. 206.
[2] VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6. ed. Salvador: Corrupio, 2002. p. 207.
[3] BENISTE, José. Orun – Àiyé. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 265.
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