Veja anuncia remédio como emagrecedor
“milagroso” e prejudica diabéticos
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Revista diz que remédio faz milagres na perda de peso, e quem precisa dele não acha mais
Diabéticos que forem às farmácias espalhadas pelo Brasil em busca do remédio liraglutida (comercialmente vendido como Victoza) podem ter dificuldade em achar o medicamento.
Segundo médicos ouvidos pelo R7, uma reportagem de capa publicada na edição de 7 de setembro da revista Veja que apresenta o remédio como um grande aliado para quem precisa emagrecer provocou uma corrida aos consultórios médicos. Médicos ouvidos pela reportagem afirmam ainda que, além de não ser indicado para tratamento de obesidade, o produto tem efeitos colaterais como náuseas, vômitos e hipoglicemia.
O remédio é um produto biológico, cuja aprovação para ser comercializado foi feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no ano passado para ser usado somente no tratamento do diabetes do tipo 2, e não para emagrecer. Uma nota divulgada na semana passada pela Sociedade Brasileira de Diabetes critica a maneira como o remédio foi apresentado na revista.
- A Sociedade Brasileira de Diabetes condena propagandas como esta, com um alto grau de sensacionalismo, aproveitando populações portadoras de problemas de saúde que podem levar à baixa estima, e por serem ávidos de soluções, se transformam num público fácil de serem persuadidos. Matérias como esta prestam um desserviço aos pacientes, e dificultam o trabalho de quem realmente deseja, baseado em ciência, prestar reais benefícios a quem necessita.
Para a endocrinologista Rosana Radominski, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), a reportagem pode fazer com que as pessoas que realmente precisam do remédio não encontrem o Victoza nas farmácias.
- O medicamento já se esgotou. A partir do que foi mostrado na revista, ele é um aliado milagroso para ajudar no emagrecimento, mas não é bem assim. Há a necessidade de fazer dieta e exercícios e seu uso ainda deve ser feito apenas por diabéticos.
Ricardo Meirelles, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, conta que vários de seus pacientes ficaram angustiados com a falta do liraglutida.
- Percebi que vários pacientes meus diabéticos que estavam usando o medicamento com a indicação correta tiveram dificuldade em conseguir o produto e ficaram bastante angustiados porque estavam tendo bons resultados e ficaram com medo de ficar sem o remédio para o seu tratamento.
Saulo Cavalcanti, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, diz que a reportagem ofereceu uma mágica que não é verdadeira e isso provocou uma grande procura em consultórios e farmácias. Ele fez uma pesquisa em Belo Horizonte, Minas Gerais, e disse que os estoques estão esgotados em várias farmácias, mesmo se tratando de um remédio caro, que custa aproximadamente R$ 400.
- Estive recentemente em um congresso internacional em que estavam mais de 300 médicos brasileiros e ouvi relatos de escassez do remédio em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul. Não é um fenômeno de Belo Horizonte. É um fenômeno Brasil.
Ele afirma que não houve essa procura grande pelo liraglutida no exterior.
- Aqui foi por causa da reportagem da revista Veja. Foi oferecida uma mágica e isso vai ficar assim por alguns meses até as pessoas perceberem que não é vantajoso.
O laboratório Novo Nordisk, que fabrica o Victoza, informa que “o medicamento não está esgotado no Brasil e que a importação e distribuição do produto estão ocorrendo conforme o planejado.”
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