terça-feira, 7 de agosto de 2012

AUTOFLAGELAÇÃO É UMA FORMA DE APELO


Autoflagelação é forma de apelo, diz especialista



Reprodução
Segundo a psicanalista Grace Lagnado, auto-mutilação é maneira de tornar público algo íntimo
Segundo a psicanalista Grace Lagnado, auto-mutilação é maneira de tornar público algo íntimo
Diego Salmen
A promotoria suiça confirmou, nesta quinta-feira, 19, que a brasileira Paula Oliveira admitiu ter mentido ao alegar que fora atacada e mutilada por três skinheads dentro de uma estação de metrô em Zurique. Em decorrência do ataque, que agora sabe-se inexistente, Paula teria abortado gêmeos, o que foi desmentido por exames feitos pelo Instituto de Medicina Forense local. A polícia trabalha com a hipótese de autoflagelação.
Não tarda para que se levante a pergunta suscitada pelo caso: por que alguém forjaria uma história como essa?

Para tentar esclarecer um pouco o assunto, Terra Magazine conversa com a psicanalista Grace Lagnado, mestre pela Université Catholique de Louvain-la-Neuve (Bélgica). A autoflagelação, segundo ela, é uma forma de apelo por parte de quem a comete.
- Há uma intenção de que isso seja revelado, saia do secreto, do íntimo, e vá para o olhar público.
Confira a entrevista:
Terra Magazine - O que pode levar a esse tipo de comportamento?
Grace Lagnado -
 É difícil fazer uma leitura generalizada, sempre varia de caso a caso. Tem que se pensar, na esfera pública e na esfera privada, o que leva alguém a sair do anonimato. Isso que é interessante, numa era em que cada vez mais pessoas saem do anonimato. Você tem programas de TV, a internet, tem alguma coisa que faz com que as pessoas se tornem muito mais exibicionistas. Por quê uma pessoa se expõe e o que ela quer dizer com esse ato? É um ato que tem uma mensagem cifrada.
Esse é um caso de mitomania (NR: doença cuja vítima cria o hábito de mentir habitual ou compulsivamente) ?
Eu não gostaria de colocar categorias. Até porque, volto a dizer, esse (o caso de Paula Oliveira) é um fenômeno do contemporâneo. Etiquetar, colocar siglas é fácil. Tudo vira referência, e aí as pessoas já entendem que se trata de alguém bipolar, depressivo, com TPM... Agora, será que ela teve um delírio de mitomania? Eu não saberia dizer qual a inquietação da moça para estar se exibindo desse jeito. Qual o sofrimento, porque provavelmente há um sofrimento também, mesmo que não tão explícito, ela revela algo muito particular dela.

Não é o caso de se fazer um diagnóstico da brasileira, mas esse comportamento de automutilação, em geral, indica alguma patologia?
À primeira vista, eu diria que há um mal-estar. Se a gente pegar simplesmente pela automutilação - não no caso dela, porque também há outras coisas envolvidas. Nos jovens e adolescentes, a mutilação é, em geral, uma coisa secreta. Eles se flagelam e é um sofrimento deles com eles mesmos. Há uma intenção de que isso seja revelado, saia do secreto, do íntimo, e vá para o olhar público.
Sim...
A automutilação poderia estar tanto num jovem psicótico, borderline, que é o que fica na fronteira entre a realidade e um mundo fantasioso, irreal. Você tem esse limite. E também há um sofrimento atroz; nem todos os psicóticos vão se automutilar, e nem todos aqueles que não são psicóticos não irão se mutilar também. Ou seja, você tem jovens que passam por um sofrimento narcísico muito grande e que acabam entrando nesse recursos para provar sua existência.
É uma coisa que tem graduações, e não dá para atribuir a um fator exclusivo...
Exatamente, tem graduações e fatores. É multifatorial; não dá pra dizer "é só isso" que vai determinar determinado perfil psicológico.
Como uma pessoa que se autoflagela pode se tratar?
É um sofrimento... É como uma coisa que é mais forte do que eles. Quando você ouve alguém que se mutila, ele diz que é difícil de controlar. "Quando eu fui ver, eu já tinha feito". Talvez seja essa a situação da brasileira. O sujeito se torna o seu próprio objeto; é como se o corpo não lhe pertencesse, ele é um objeto. Há uma espécie de dissociação no momento do ato.

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