Autoflagelação é uma reação ao estresse e ansiedade, diz psiquiatra
A autoflagelação é um comportamento que se relaciona na psiquiatria com os transtornos dos controles dos impulsos. O sintoma pode se manifestar de formas diferentes, como no abuso de álcool, de drogas, comportamento sexual compulsivo, jogo, entre outros.
A avaliação é do médico psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) e professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Distúrbios psicológicos podem desencadear automutilação, dizem especialistas
De acordo com a psicoterapeuta Maura de Albanesi, diretora do Instituto de Psicologia Avançada de São Paulo, a automutilação é um distúrbio comum que pode ser provocado por uma série de patologias psicológicas.
"Normalmente a automutilação surge da culpa. A pessoa muitas vezes nem sabe de onde surgiu essa culpa, mas sente a necessidade de se ferir", afirma Maura. "Em alguns casos avançados [de depressão], a pessoa se mutila para deixar de sentir aquela tristeza toda."
A psiquiatra Jackeline Giusti, coordenadora do Ambulatório de Automutilação, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, também relaciona os casos de automutilação com diferentes problemas psiquiátricos que podem variar desde esquizofrenia e transtorno bipolar até depressão.
Ela ainda destaca que "as pessoas que praticam automutilação fazem isso de forma consciente e não tem relação com qualquer impulso suicida".
Essas lesões são normalmente feitas em locais que não permitam familiares e amigos verem os ferimentos. "Geralmente eles fazem essas lesões em locais que não possam ser vistos, mas pode acontecer de fazerem isso para conseguir algum ganho, ou para chamar a atenção", afirma Jackeline.
No caso da brasileira, Jackeline destaca que é muito raro casos de pessoas que praticam a automutilação fazerem desenhos. "Geralmente a automutilação corresponde a cortes simples feitos em locais como braços e pernas".
Marcas
Segundo Maura, a automutilação pode ocorrer até mesmo em casos de ciúmes. "É quando o ciúme se transforma em uma patologia psicológica, e a pessoa se fere para atingir o outro", diz.
Já em casos de surtos psicóticos, por exemplo, o paciente pode ter delírios e fantasiar uma agressão. "A pessoa realmente acredita naquilo. E quem não sabe que a pessoa tem um problema psicológico acredita na versão dela, porque para ela aquilo é uma realidade e ela conta como se realmente tivesse acontecido, até com detalhes", afirma Maura.
Gravidez psicológica
De acordo com a família da bacharel em direito brasileira, Paula estava no terceiro mês de gestação de gêmeos. Porém, a polícia e a perícia negam a versão da família.
Segundo Maura, não é raro o caso de mulheres desenvolverem uma gravidez psicológica. "Na gravidez psicológica a barriga cresce, o corpo muda. É como se o corpo respondesse aos estímulos enviados pela mente", afirma.
Tanto no caso da gravidez psicológica, quanto na automutilação, Maura recomenda o tratamento medicamentoso --sempre com o indicado por um médico-- e o tratamento psicológico. Segundo a especialista, em alguns casos é recomendada a internação.
Segundo Silveira, quando as pessoas não conseguem controlar um impulso, isso tem um reflexo em seu comportamento. "Se tem uma manifestação de raiva, ela pode se dirigir contra si mesma. O ato suicida seria uma outra forma de autoagressão. Isso tem a ver com uma desregulação desse controle da impulsividade", diz.
Quem possui esse sintoma, explica Silveira, geralmente percebe a inadequação de um ato, mas apesar de toda a crítica que tem consigo mesmo, não consegue se conter, o que gera grande sofrimento.
A autoflagelação se manifesta em qualquer fase da vida de um indivíduo, principalmente na adolescência. De acordo com o médico, atos suicidas são mais frequentes em homens, enquanto que o comportamento automutilatório se apresenta em mulheres.
O psiquiatra ressalta que o sintoma está ligado à baixa concentração de serotonina no cérebro. Como consequência, um dos tratamentos para o problema é a indicação de antidepressivos para repor a falta de substâncias.
Embora a medicação ajude muito, a autoflagelação tem um fator psicólogo envolvido, afirma o médico. "Esses pacientes em geral precisam de um trabalho psicoterápico no sentido de reestruturar a vida do indivíduo, para ele não recorrer a esse tipo de ação como reação a estresse e ansiedade", conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário